Pequim,
17 mai (Lusa) - O caos da Revolução Cultural "nunca se repetirá",
escreveu hoje um jornal oficial chinês, numa rara referência aos 50 anos desde
o início de uma década vista atualmente como "o maior erro da história do
socialismo na China".
Foi
exatamente há meio século que o histórico líder chinês Mao Zedong lançou
oficialmente aquela radical campanha política e social de massas, destinada a
consolidar o seu poder absoluto.
O
Partido Comunista Chinês (PCC) continua, no entanto, a limitar o debate, com os
comentários nas redes sociais chinesas sobre a Revolução Cultural a serem
censurados, enquanto a imprensa local ignorou a efeméride.
Críticos
do regime consideram que as restrições potenciam uma repetição da catástrofe.
"Nós
despedimo-nos da Revolução Cultural", afirmou, em editorial, o jornal
oficial Global Times, proclamando que "hoje podemos dizer mais uma vez que
a Revolução Cultural não pode e não voltará a acontecer. Não existe lugar para
isso na China atual".
O
Diário do Povo, o jornal oficial do PCC, que não fez qualquer referência ao
aniversário, disse apenas que o país aprendeu uma lição e continuou em frente.
A
China "não vai e nunca mais deve permitir que um erro como a Revolução
Cultural se repita", afirmou, classificando aquela campanha como
totalmente errada "em ambas teoria e prática".
A
"História sempre se desenvolve numa direção progressiva", sublinhou.
Em
1981, a Revolução Cultural foi oficialmente considerada pelo PCC como um erro
grave e "catastrófico para o Partido, o Estado e toda a população",
uma decisão que o Diário do Povo classifica de "científica e
correta".
A
resolução atribuiu as culpas a Mao Zedong, evitando uma responsabilização direta
do partido.
Reminiscências
do maoismo continuam, no entanto, patentes na segunda maior economia do mundo.
No
início do mês, um concerto que marcou o aniversário da Revolução Cultural, no
Grande Palácio do Povo, em Pequim, reanimou o debate sobre aquele período, ao
entoar música e exibir imagens da propaganda ideológica de então.
Numa
reação, o Global Times procurou afastar os receios de um ressurgimento
neo-maoista, apontando que a China aprendeu uma lição com a "dor
permanente", causada por aquela década caótica.
A
Revolução Cultural ensinou a sociedade chinesa a "manter-se vigilante
contra os perigos acarretados por qualquer tipo de desordem (?) Ninguém teme
tumultos e deseja mais a estabilidade do que nós", realçou.
JOYP
// ARA
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