Díli,
17 mai (Lusa) - Três em cada cinco mulheres timorenses foram vítimas de
violência física ou sexual pelos seus parceiros, 14% foram violadas fora da
relação e 3% foram vítimas de violações coletivas, segundo um estudo.
O
estudo, a que a agência Lusa teve hoje acesso, foi realizado pela Asia
Foundation e pelo programa Nabilan e é financiado pelo Governo australiano.
Intitulado
"Entender a violência contra as mulheres e crianças em Timor-Leste, o
estudo vai ser apresentado na quarta-feira em Díli num debate promovido pelo
programa Nabilan.
Uma
em cada quatro mulheres (24%) e dois em cada cinco homens (42%) foram vítimas
de abuso sexual antes de cumprirem 18 anos e, globalmente, três em cada quatro
pessoas em Timor-Leste foram vítimas de alguma forma de violência ou abuso
físico antes dos 18 anos, refere-se no documento.
Quase
metade das mulheres e um terço dos homens admite ter testemunhado a sua mãe a
ser vítima de violência física às mãos do parceiro.
Os
dados foram extrapolados de entrevistas conduzidas a nível nacional a 1.426
mulheres, com idades entre os 15 e os 49 anos e a 839 homens, com o trabalho de
campo a ser realizado em agosto e setembro do ano passado.
"Os
resultados do estudo ilustram inequivocamente que a violência contra as
mulheres é um problema crítico para o desenvolvimento de Timor-Leste",
disse Susan Marx, responsável da Asia Foundation em Timor-Leste.
"Sem
quebrar o ciclo de violência, que inclui quebrar a normalização de abuso
físico, sexual e intelectual das mulheres, Timor-Leste não será capaz de
avançar como uma democracia, liberal, próspera moderna com uma população
saudável", sublinhou, no preâmbulo do estudo.
O
estudo deixa um conjunto de recomendações às autoridades timorenses que,
sugere, devem desafiar as normas sociais que aceitam a violência física e
sexual contra as mulheres, promover saúde sexual saudável e consensual e
reforçar a capacidade do setor judicial para responder adequadamente.
Lidar
com comportamentos antissociais que relacionam cultura masculina com violência e
promover uma "masculinidade saudável", lidar com o abuso infantil e
promover "ambientais familiares e escolares sem violência" são outras
recomendações.
Os
autores do estudo consideram que se deve "fortalecer o papel do setor da
saúde na prevenção e resposta à violência contra as mulheres" e
"reforçar a capacidade do sector judicial para fazer cumprir a legislação
existente", respondendo adequadamente a incidentes de violência.
O
estudo mostra que duas em cada cinco mulheres (41%) dizem ter sido vítima de
violência sexual pelo marido ou namorado e quase metade das mulheres vítimas de
violência confirma que o ato mais recente de violência ocorreu no último ano.
Entre
as mulheres vítimas de violência, quatro em cada cinco (81%) disseram que esta
violência tinha acontecido muitas vezes e mais de três quartos (77%) confirmam
que se trataram de "atos graves de violência", tanto física como
sexual.
Entre
os homens sondados, mais de um terço admite ter usado violência física ou
sexual contra a sua companheira e 41% que usou violência emocional ou económica
contra as companheiras.
Embora
a maioria das violações ocorra dentro de relações existentes, o estudo
confirmou que 14% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos foi violada por
alguém que não era o seu companheiro.
"Os
autores de violação são geralmente conhecidos das mulheres. Pais e membros da
família, amigos e vizinhos são os principais autores das violações",
nota-se no estudo.
No
documento refere-se ainda que uma em cada sete mulheres (14%) que já tinha tido
relações sexuais confirma que a sua primeira relação sexual foi forçada, algo
particularmente prevalente entre as mais jovens.
Um
em cada cinco homens entre os 18 e os 49 confirmou ter violado uma mulher pelo
menos uma vez na vida e entre 6% e 12% dos homens disse que tinha violado uma
mulher ou rapariga com mais de um homem ao mesmo tempo.
Três
em cada cinco homens (65%) violaram quando eram adolescentes (com menos de 20
anos) e 15% antes dos 15 anos.
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