sábado, 18 de março de 2017

A campainha que a cada dois minutos deu 'som' ao debate presidencial

Díli, 17 mar (Lusa) - Uma estridente campainha que se ouvia praticamente cada dois minutos, a assinalar o fim do tempo que cada candidato tinha para responder, tornou-se hoje o som mais marcante do debate entre os oito candidatos às eleições presidenciais timorenses.

De cada vez que um dos candidatos ultrapassava os dois minutos previstos para responder - marcados em dois ecrãs com contagem decrescente dos dois lados do palco -, ouvia-se a campainha, que ecoava no amplo salão da Comissão Nacional de Eleições (CNE) onde decorreu o debate.

Mesmo no caso em que os candidatos acabavam mais cedo, os moderadores tinham que esperar o fim dos dois minutos e a campainha para não serem interrompidos pelo som.

Um dos primeiros a não precisar do tempo todo foi José Neves, a quem um dos dois moderadores, o jornalista Vergílio Guterres, perguntou se não queria aproveitar os 30 segundos que faltavam logo na sua primeira resposta: "não preciso mais tempo para explicar", respondeu.

A campainha foi apenas uma das 'tecnologias' utilizadas na conversa de duas horas e meia que estreou as transmissões em 'streaming' pela internet dos debates eleitorais - também foi transmitido pela rádio e televisão nacionais (RTTL).

Tecnologia que nem sempre correu bem, com espetadores a queixarem-se nas redes sociais sobre a má qualidade do áudio da RTTL.

Nas primeiras respostas, os maiores aplausos da plateia marcaram a intervenção de um relativo desconhecido, Luis Tilman, que disse que se apresentava ao voto para mostrar que "qualquer um se pode candidatar ao cargo de chefe de Estado".

José Luis Guterres, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros, foi o primeiro a usar uma expressão em inglês, logo na sua primeira frase, a referir-se à tensão no "South China Sea", antes de detalhar a sua experiência diplomática e enquanto membro do Governo.

Foi também o primeiro a usar o português, referindo-se à ocupação japonesa de Timor-Leste durante a 2.ª Guerra Mundial que, disse: "trouxe ao país uma guerra que não era nossa".

O encontro não foi um debate, mas sim uma sucessão de perguntas respondidas durante dois minutos e sem qualquer interação por cada um dos candidatos, primeiro na ordem crescente que os oito candidatos ocupam no boletim de voto e depois no sentido inverso.

Questões como motivação para a candidatura, definição de principais objetivos da presidência e quais os maiores desafios do país marcaram o arranque do debate. Justiça, política externa e economia foram outros dos temas abordados.

O debate decorreu no Salão Lalini-Lariguto, no segundo andar do edifício da Comissão Nacional de Eleições (CNE), em Díli.

As zonas de Lalini-Lariguto, na região de Viqueque, na ponta leste de Timor-Leste têm especial significado na história da resistência tendo sido ali que decorreram as negociações entre a resistência, lideradas por Xanana Gusmão, e os ocupantes indonésios, que levaram ao cessar-fogo de 1983.

Dois moderadores, Vergílio Guterres (presidente do Conselho de Imprensa) e Paula Rodrigues (jornalista da RTTL) colocaram as questões, que foram preparadas com contribuições da CNE, da Provedoria dos Direitos Humanos e da Comissão Anticorrupção.

O intervalo do longo debate ficou marcado por uma atuação da artista sensação timorense, a jovem Maria Vitória, que recentemente ficou em terceiro num concurso promovido por uma televisão indonésia e que interpretou uma canção em tétum sobre a paz no mundo.

Do debate ficam também outros momentos, como quando o copo e a garrafa de água caíram sobre o palanque de Francisco Guterres Lu-Olo, favorito nas eleições de segunda-feira.

Jornalistas timorenses recordaram, de imediato, que no debate das presidenciais de 2007, também caiu o copo com água sobre o palanque do candidato que agora é apoiado pelos dois maiores partidos do país, Fretilin e CNRT.

ASP // VM

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