Díli,
13 dez (Lusa) - Tratamentos mais amplos a parasitas intestinais, abrangendo
crianças e adultos, ajudariam a melhorar significativamente a saúde de milhões
de crianças no sudeste asiático, Pacífico e África, segundo um estudo em que
participou uma investigadora portuguesa.
Susana
Vaz Nery, a investigadora portuguesa que integrou a equipa responsável pelo
estudo da Australian National University (ANU) - publicado esta semana na
revista cientifica Lancet - explicou à Lusa que os dados mostram que a eficácia
dos tratamentos é maior se abrangerem mais do que apenas as crianças.
"Esta
é a primeira vez que os investigadores demonstraram que a expansão de programas
de medicação para todos os membros da comunidade provavelmente conduzirá a um
melhor controlo de vermes intestinais nas crianças", explicou Vaz Nery, da
Escola de Saúde Pública da ANU.
Atualmente,
as diretrizes internacionais recomendam principalmente o tratamento
antiparasitário para crianças, mas este estudo mostra os benefícios de uma
estratégia de tratamento mais alargada.
O
estudo incluiu um projeto-piloto, conduzido ao longo de um ano a cerca de 500
crianças em Timor-Leste e cujos resultados, segundo a investigadora
"apoiam a mesma conclusão" de que "os tratamentos beneficiam
mais se toda a comunidade for tratada".
Vaz
Nery explicou que até recentemente este grupo de doenças de que os parasitas
intestinais fazem parte, "não tinham grande visibilidade em termos de
financiamento" por não serem doenças com tanto impacto mortal como outras,
como a malária, que tinham mais apoio internacional.
Apesar
do seu impacto significativo no desenvolvimento infantil e de mais de mil
milhões de pessoas em todo o mundo estarem em risco, as doenças acabavam por
não suscitar tanto debate internacional.
"A
OMS tem vindo a desenvolver um conjunto de diretrizes que vão sendo modificadas
conforme o contexto internacional muda. Como as crianças são o principal grupo
afetado, as diretrizes recomendam esta desparasitação focada apenas em
crianças", explicou.
O
objetivo é que este estudo, uma meta análise comparativa de estudos sobre a
aplicação das diferentes modalidades de tratamento, possa ajudar a um debate
que torne os critérios de tratamento ainda mais eficazes.
Atualmente,
recorda, as campanhas implementadas em países endémicos têm o apoio das
próprias companhias farmacêuticas que doam estes medicamentos desde 2012.
Cada
pastilha custa 30 cêntimos e o tratamento obriga a uma ou duas doses por ano,
dependendo da prevalência, sendo que será necessário ampliar significativamente
o apoio caso se opte por ampliar o tratamento a toda a comunidade.
Naomi
Clarke, da equipa de investigadores responsáveis pelo estudo, recorda o impacto
que os parasitas podem ter nas crianças mais pobres, com crescimento e
desenvolvimento precários, perda de sangue intestinal crónica e anemia, em
alguns casos.
"Cerca
de 880 milhões de crianças em todo o mundo estão expostas a vermes intestinais. Crianças com vermes intestinais podem não desenvolver a sua plena capacidade
física e intelectual. Isso torna mais difícil quebrar o ciclo da pobreza",
destacou Clarke.
ASP
// APN
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