quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Ampliação de tratamentos antiparasitários ajudaria milhões de crianças, segundo estudo


Díli, 13 dez (Lusa) - Tratamentos mais amplos a parasitas intestinais, abrangendo crianças e adultos, ajudariam a melhorar significativamente a saúde de milhões de crianças no sudeste asiático, Pacífico e África, segundo um estudo em que participou uma investigadora portuguesa.

Susana Vaz Nery, a investigadora portuguesa que integrou a equipa responsável pelo estudo da Australian National University (ANU) - publicado esta semana na revista cientifica Lancet - explicou à Lusa que os dados mostram que a eficácia dos tratamentos é maior se abrangerem mais do que apenas as crianças.

"Esta é a primeira vez que os investigadores demonstraram que a expansão de programas de medicação para todos os membros da comunidade provavelmente conduzirá a um melhor controlo de vermes intestinais nas crianças", explicou Vaz Nery, da Escola de Saúde Pública da ANU.

Atualmente, as diretrizes internacionais recomendam principalmente o tratamento antiparasitário para crianças, mas este estudo mostra os benefícios de uma estratégia de tratamento mais alargada.

O estudo incluiu um projeto-piloto, conduzido ao longo de um ano a cerca de 500 crianças em Timor-Leste e cujos resultados, segundo a investigadora "apoiam a mesma conclusão" de que "os tratamentos beneficiam mais se toda a comunidade for tratada".
Vaz Nery explicou que até recentemente este grupo de doenças de que os parasitas intestinais fazem parte, "não tinham grande visibilidade em termos de financiamento" por não serem doenças com tanto impacto mortal como outras, como a malária, que tinham mais apoio internacional.

Apesar do seu impacto significativo no desenvolvimento infantil e de mais de mil milhões de pessoas em todo o mundo estarem em risco, as doenças acabavam por não suscitar tanto debate internacional.

"A OMS tem vindo a desenvolver um conjunto de diretrizes que vão sendo modificadas conforme o contexto internacional muda. Como as crianças são o principal grupo afetado, as diretrizes recomendam esta desparasitação focada apenas em crianças", explicou.
O objetivo é que este estudo, uma meta análise comparativa de estudos sobre a aplicação das diferentes modalidades de tratamento, possa ajudar a um debate que torne os critérios de tratamento ainda mais eficazes.

Atualmente, recorda, as campanhas implementadas em países endémicos têm o apoio das próprias companhias farmacêuticas que doam estes medicamentos desde 2012.

Cada pastilha custa 30 cêntimos e o tratamento obriga a uma ou duas doses por ano, dependendo da prevalência, sendo que será necessário ampliar significativamente o apoio caso se opte por ampliar o tratamento a toda a comunidade.

Naomi Clarke, da equipa de investigadores responsáveis pelo estudo, recorda o impacto que os parasitas podem ter nas crianças mais pobres, com crescimento e desenvolvimento precários, perda de sangue intestinal crónica e anemia, em alguns casos.

"Cerca de 880 milhões de crianças em todo o mundo estão expostas a vermes intestinais. Crianças com vermes intestinais podem não desenvolver a sua plena capacidade física e intelectual. Isso torna mais difícil quebrar o ciclo da pobreza", destacou Clarke.

ASP // APN

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