06 de Março de 2019, 17:56
A qualidade e o preço do acesso à
internet em Timor-Leste só melhoram se o país reduzir os custos de
fornecimento, construindo um cabo submarino de fibra ótica, disse à Lusa o
responsável de uma empresa do setor.
Até lá, explicou Michael Ackland,
que é diretor nacional de Governação e Projetos Estratégicos do Vocus Group --
quarta maior empresa de telecomunicações australiana -- o país pode ter
concorrência nacional, mas o preço permanecerá "astronomicamente elevado".
Ackland disse que os operadores
em Timor-Leste gastam 12 milhões de dólares por ano na compra de acesso à rede
internacional através de satélite, com esse valor a ser multiplicado depois nos
custos para os clientes, que têm velocidades lentas e instáveis.
"O preço aqui é em média de
200 dólares por megabit por segundo por mês. Timor compra 8 gigabits. Isso
representa 12 milhões de dólares", explicou, referindo que o preço por
megabit/segundo em Darwin é de apenas "5 a 6 dólares".
Michael Ackland está em Díli para
diálogos com o Governo e com o setor, no âmbito da eventual construção de um
cabo submarino internacional de fibra ótica até Timor-Leste.
O grupo quer ser parceiro de
Timor-Leste (sem ser construtor) numa eventual ligação do sul do país a um
outro cabo recentemente terminado e que passa ao lado da fronteira marítima com
a Austrália, no Mar de Timor.
A rede da Vocus inclui, entre
outros, um cabo que liga a cidade australiana de Perth a Singapura e um outro
que conecta deste até Port Heldand no noroeste da Austrália e continua depois
até Darwin, passando ao lado da fronteira no Mar de Timor.
Seria deste cabo, o North Western
Cable System (NWCS) que seria possível uma ligação por cabo submarino, de 250 quilómetros ,
até ao sul de Timor-Leste.
Depois de entrar a sul, a ligação
de dados seria feita para o resto do país através do sistema de fibra ótica
nacional que foi instalado, em
cabos OPGW com a rede elétrica.
Os cabos OPGW (sigla inglesa de
Overhead Power Ground Wire) são fios de terra instalados nas linhas elétricas
de alta tensão nos quais são introduzidos cabos de fibra ótica, e que funcionam
tanto como para-raios como para transmissão de dados e voz.
Ackland explica que quando o NWCS
estava a ser construído foi tomada a opção de contactar Timor-Leste e ver a
vontade dessa eventual ligação, tendo o grupo optado por ampliar capacidade da
fibra e instalado uma conexão em 'T' para permitir que isso ocorra.
"Não podíamos construir um
sistema e mudar depois. Se não tivéssemos feito esse gasto adicional, um
investimento de vários milhões na altura, não poderíamos fazer a conexão",
recorda.
Em Timor-Leste a questão do cabo
submarino suscitou já vários acordos e anúncios no passado, incluindo um
"acordo de opções" com a Vocus, sem que nenhuma das propostas se
tenha concretizado até agora.
Em 2015 fontes do executivo
confirmaram que o Governo estava a estudar propostas de um consórcio entre a
chinesa Huawei e o grupo britânico e norueguês Marine, e outra do grupo
australiano Nextegn.
Em 2017 o VI Governo assinou o
"acordo de opções" com o Vocus Group, que termina em julho, e que a
empresa está disponível para estender.
Já em 2018 o VII Governo -- que
caiu devido à dissolução do parlamento -- assinou uma carta de intenções com
duas empresas indonésias para fibra ótica entre a ilha indonésia de Alor e
Timor-Leste.
Esse projeto, num investimento de
cerca de 20 milhões de dólares e que envolvida as empresas Moratelindo e Telin,
foi contestado pela oposição maioritária que é agora a coligação do Governo.
Ackland recomenda que no caso de
Timor-Leste o cabo deve ser construído por uma entidade independente, detida a
100% pelo Estado ou em regime de parceria público-privada, mas sem deixar
"vantagens de monopólio" a qualquer dos operadores.
"Quem construir este cabo
terá o monopólio. Se for um dos operadores pode, basicamente, arruinar os
outros operadores. Por isso o que recomendamos é ter uma empresa ou entidade
independente para dar acesso igual a todos os operadores", afirmou.
A construção, explicou, poderia
ser feita em menos de um ano, representando uma "redução muito
significativa em preço e um aumento significativo na velocidade".
"A questão não é só
construir o cabo em si. É a questão de onde está ligado. Podem conseguir ligar
à Indonésia por 20 milhões. Mas isso é só o cabo e não o resto", disse.
"Muitos dos cabos na
indonésia não são enterrados, são depositados no leito do mar. E por isso estão
sempre a ser cortados", disse, notando que a internet na indonésia é
"oito vezes mais cara" que na Austrália.
Com sede em Sydney, o Vocus Group
é uma empresa internacional de telecomunicações fundada em 2008 e hoje a quarta
maior empresa de telecomunicações da Austrália, com mais de 471 mil assinantes.
A empresa que tem mais de 30 mil
quilómetros de fibra e cinco mil colaboradores, fornece serviços de
telecomunicações como grossista, no retalho e no setor corporativo na Austrália
e Nova Zelândia, operando 23 centros de dados nos dois países.
Em 2015 adquiriu a empresa Amcom,
tendo-se fundido no ano seguinte com o M2 Group, num negócio avaliado em 3,75
mil milhões de dólares australianos, tendo ainda adquirido a empresa Nextgen
Networks por 861 milhões de dólares americanos.
Lusa, em Sapo TL
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