Lisboa,
22 jul (Lusa) -- Opositores e ativistas políticos na Guiné Equatorial asseguram
que o ensino do português não foi implementado e que a adesão à Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) cumpriu apenas desejo pessoal do chefe de
Estado, Teodoro Obiang.
Um
ano depois da entrada na CPLP, "a Guiné Equatorial não cumpriu as
condições de adesão", afirma à Lusa Andrés Esono Ondo, secretário-geral do
único partido na oposição legalizado (Partido da Convergência para a Democracia
Social -- CDS) que tem o único deputado eleito no Parlamento.
Das
três condições impostas no roteiro de acesso do país -- antiga colónia
portuguesa depois entregue a Espanha -- somente foi cumprida uma: a introdução
do português como língua oficial. As outras duas, abolição da pena de morte e
ensino do português, não estão concretizadas.
A
pena de morte está somente suspensa através de uma moratória, por decreto
presidencial, e a legislação permanece inalterada.
Quanto
ao português, "oficialmente não se está a fazer nada no ensino da
língua", diz, por seu turno, Jeronimo Ndong Mesi, secretário-geral da
União Popular, um dos partidos que não tem a sua liderança reconhecida pelo
poder.
Para
o dirigente, o regime usou a CPLP para ganhar credibilidade no exterior:
"É algo que o governo vende ao mundo exterior, mas que não coloca em
prática".
Por
outro lado, a situação política está a "deteriorar-se": "A
atitude do governo com os políticos da oposição é cada vez mais beligerante e
hostil", diz Esono Ondo.
Em
abril, o líder do CDS detido por mais de dez horas pelas autoridades policiais
de Malabo, capital da Guiné Equatorial, por suspeitas de tentar introduzir o
Ébola no país.
Esono
Ondo sustenta agora que este caso se tratou de uma montagem: "dizem na
televisão pública que viajei à Guiné-Conacri para comprar um doente com Ébola.
Acusam-me de ser um criminoso e apelam à população para que não vote em
mim".
O
roteiro estabelecido pela CPLP para a adesão da Guiné Equatorial incluía ainda
medidas destinadas a promover o uso do português, mas "o governo não
canaliza recursos para o sistema de ensino".
"Constroem-se
grandes hotéis, pontes, centros comerciais, e até cidades, mas não temos
escolas. É a própria sociedade que se ocupa da educação dos seus filhos",
conta.
Segundo
Ndong Mesi, "omente na embaixada do Brasil se encontram cursos de
português", a título particular, fora do sistema de ensino oficial.
A
Guiné Equatorial é o único país da África de língua oficial espanhola e o
francês é a segunda língua mais falada. No final do século XX, Obiang elevou o
francês a língua oficial no processo de adesão à comunidade da francofonia.
O
sítio na internet do Ministério dos Negócios Estrangeiros, por exemplo, está
disponível em espanhol, francês e inglês, mas continua sem uma versão em
português, que é uma das línguas oficiais do país.
Com
680 mil habitantes e uma área ligeiramente inferior à do Alentejo, a Guiné
Equatorial foi o nono país a aceder à CPLP.
Trata-se
do terceiro maior produtor de petróleo na África subsariana, ultrapassado
apenas por Angola e Nigéria.
Nascido
durante a era colonial na então Guiné Espanhola, Teodoro Obiang lidera o país
há 36 anos, desde que depôs o tio, Francisco Macías Nguema, num golpe de Estado
sangrento.
JOYP
// PJA
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