sábado, 12 de novembro de 2016

Presidente timorense destaca trabalho de jornalistas que divulgaram massacre de Santa Cruz


Díli, 12 nov (Lusa) -- O Presidente timorense enalteceu hoje o trabalho dos jornalistas que "deram a conhecer ao mundo o crime em Santa Cruz", no dia em que se assinalam 25 anos sobre o massacre que mudaria a história da luta pela independência.

"Passam 25 anos sobre o massacre de Santa Cruz. Infelizmente, houve outros massacres terríveis na nossa terra. Mas o massacre de Santa Cruz chamou, especialmente, a atenção do mundo para o sacrifício dos nossos jovens -- e do nosso povo -- porque estavam em Santa Cruz jornalistas, incluindo jornalistas de outros países", disse Taur Matan Ruak.

"As imagens que esses jornalistas gravaram e as notícias que escreveram correram mundo e deram a conhecer o crime cometido em Santa Cruz, em 12 de novembro de 1991", acrescentou o Presidente de Timor-Leste.

A 12 de novembro de 1991 realizou-se uma missa e cerimónia em homenagem de Sebastião Gomes, morto por elementos ligados às forças indonésias uns dias antes no bairro de Motael, e milhares de pessoas dirigiram-se até ao cemitério de Santa Cruz.

Durante o percurso alguns abriram cartazes e faixas de protesto. As forças indonésias responderam com extrema violência, matando mais de 250 pessoas.

As imagens do massacre de Santa Cruz, recolhidas pelo jornalista inglês Max Stahl e que, para muitos marcaram um momento de viragem na questão de Timor-Leste saíram de Díli, dois dias mais tarde, a 14 de novembro de 1991, graças à intervenção da holandesa Saskia Kouwenberg, que escondeu a cassete numa 'bolsa' improvisada entre duas cuecas cosidas uma à outra, conforme contou à agência Lusa.

Hoje, Taur Matan Ruak reconheceu o trabalho dos "jornalistas Allan Nairn e Amy Goodman, presentes em Santa Cruz, em 1991", e destacou em particular "o grande amigo de Timor-Leste, Max Stahl, também presente nesse trágico dia, que pelo seu trabalho, o seu profissionalismo e a sua coragem mostraram ao mundo o sacrifício dos timorenses no país ocupado".

"Desta maneira, a imprensa livre e os valores do jornalismo contribuíram para a liberdade dos timorenses", disse.

Taur Matan Ruak deixou também um "agradecimento especial" para o jornalista da agência Lusa António Sampaio, pelo seu contributo para "divulgar por todo o mundo a luta do povo timorense".

Na altura do massacre, António Sampaio estava sedeado na Austrália, a partir de onde acompanhou o massacre, à distância, para a imprensa portuguesa.

"Vinte e cinco anos depois daquele trágico dia, Timor-Leste é independente e a liberdade de imprensa permanece um valor da maior importância, para dar voz à sociedade e aos cidadãos contra a violência e todas as formas de abuso", afirmou.

Para Taur Matan Ruak, naquele tempo "em que lutar pelo bem-estar e pelo desenvolvimento significava libertar o país", os timorenses "mostraram a sua capacidade, como povo".

O Presidente timorense destacou em particular o "sacrifício heróico de muitos jovens, que se ergueram contra a ocupação" e pela "libertação do povo timorense".

"Presto homenagem à memória dos mártires de Santa Cruz e de todos os jovens que tombaram noutros massacres, em Díli e outros lugares", disse, estendendo o reconhecimento a "todas as famílias cujos filhos e filhas tombaram em defesa da dignidade do povo e da independência da nossa terra".

No dia da homenagem aos mártires do 12 de novembro, em que também se assinala o Dia Nacional da Juventude, Taur Matan Ruak apelou "à unidade do país, em prol da estabilidade e do desenvolvimento".

Além disso, destacou ainda o papel da resistência juvenil na Frente Clandestina pelo planeamento da manifestação rumo ao Cemitério de Santa Cruz, e a continuidade deste trabalho pelo Comité 12 de novembro.

"Hoje é também um dia de celebração, pois o dia de hoje marca o início das atividades de um novo Comité. O Comité Orientador para a Elaboração da História da Organização da Luta da Juventude, a quem dirijo os meus sinceros votos de felicitações e a minha estima pessoal e apoio", afirmou.

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