Mário
Motta*, Lisboa
Em
Timor-Leste já é domingo (no inverno tem 9 horas a mais relativamente a
Portugal). Por esta hora as igrejas preparam-se para receber os fiéis. E em Timor-Leste
são muitos. Provavelmente o tema das homilias rondam o dia seguinte,
segunda-feira, dia de eleições presidenciais. Para Timor-Leste este domingo é o
último dia de reflexão.
A
campanha eleitoral decorreu com normalidade. Talvez o período de campanha
eleitoral mais “sem casos” nem violência. Evidentemente que os maiores partidos
políticos, FRETILIN e CNRT, foram os mais mediatizados. As suas máquinas não
perderam oportunidade para encher as manchetes. O desequilíbrio foi evidente
relativamente aos pequenos partidos políticos.
Devia
aqui ser referido os candidatos, não os partidos políticos. Acontece que
principalmente nos grandes partidos, com representação parlamentar substancial,
os candidatos andam a reboque dos partidos políticos e das suas máquinas
eleitorais. Não acontece o mesmo com os candidatos apoiados por pequenos
partidos ou organizações de índole politico-social. Os independentes são os que
têm menos oportunidades, a todos os níveis. Resta eventualmente a promoção dos
próprios indivíduos que são candidatos. Ao menos isso.
Temos
então o candidato Lu-Olo que vai ser o vencedor deste pleito presidencial em 20
de Março. Vai ser vencedor porque é o candidato da FRETILIN e cumulativamente
do CNRT. Para os que têm dificuldade em identificar os partidos digamos, grosso
modo, que é a FRETILIN de Mari Alkatiri e o CNRT de Xanana Gusmão. Dito isto é
fácil saber que o próximo presidente da República de Timor-Leste vai ser
Lu-Olo, também ele dirigente da FRETILIN.
Aos mais distraídos importa informar que as digladiações entre Xanana e
Alkatiri já não existem, nem os confrontos entre a FRETILIN e o CNRT.
Atualmente são amigos (já o eram há mais de 50 anos). Os desentendimentos
políticos esmoreceram. O governo é repartido e o primeiro-ministro é um militante
da FRETILIN, Rui Maria de Araújo. O que se vai seguir é mais do mesmo mas de
modo mais uniforme e incontestado. Xanana e Alkatiri vão estar de posse da
Presidência da República, do governo e do parlamento – salvo seja. O unanimismo
vai prevalecer. O que até agora não tem acontecido desse modo porque o ainda
atual presidente, Taur Matan Ruak, tem sido um contraditório muito ativo do
governo e do parlamento. Enfim, naquilo que pode, constitucionalmente.
É
este mesmo ainda atual PR de Timor-Leste, Taur, que vai sair da Presidência da
República e abraçar a politica partidária. Quer ser ele, não o crocodilo mas
sim o dragão, que se perfilará para combater o unanimismo que com Lu-Olo em PR
pode tomar dimensões que poderão escavacar qualquer nação que se pretende
democrática. Temos assim um Taur Matan Ruak a integrar e dirigir um partido
político – o PLP ou o que vier – que nas próximas eleições legislativas vai
procurar conquistar democraticamente a maioria no parlamento timorense e assim
chegar a primeiro-ministro. O plano é derrubar tanto quanto possível o
malfadado poder unânime que se assemelha a uma ditadura. Assim acontece noutras
partes do mundo e em Timor-Leste, a acontecer, não deverá ser diferente. Vamos
esperar para ver. Sabendo-se de antemão que o que se deseja é o melhor para os
timorenses. E o melhor é a democracia de facto, são os poderes exercidos por
forças e individualidades que se regulem, negoceiem e cheguem a consensos que
proporcionem o melhor para os eleitores e todos os governados. Democracia de
facto. O mais possível no presente esquema que também ele está a ficar
ultrapassado. Mas, enquanto não for instaurado melhor regime este é o melhor
apesar de tantos e gravosos defeitos que antagonizam os povos, os seus
direitos, suas liberdades e garantias.
Sobre
Timor-Leste pouco mais há para dizer. A não ser que pode haver uma surpresa e
Lu-Olo ser votado com mais de 50% logo na primeira volta. Difícil mas não
impossível. Caso não aconteça a referida surpresa, terá de haver uma segunda volta
eleitoral. Essa está garantida a António da Conceição, atual ministro da
Educação, também dirigente do Partido Democrático. No final da segunda volta
eleitoral, já se sabe, o eleito PR da República Democrática de Timor-Leste será
Lu-Olo. Para alguns pode ser somente uma previsão que pode falhar. Pois pode...
Para
muitos, nas eleições presidenciais que vão acontecer em Timor-Leste no próximo
dia 20, só há uma dúvida acerca dos dois candidatos dos três maiores partidos
políticos: haverá segunda volta eleitoral ou não?
Não
esquecendo que a última palavra ou ação pertence aos eleitores timorenses resta
aos observadores desejar que seja o que os eleitores considerarem o melhor, o
mais conveniente para a defesa da democracia e dos interesses do povo timorense.
E que seja mesmo para o melhor de Timor-Leste.
*Página
Global, em 18 março 2017
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