Díli,
19 mai (Lusa) - O ex-presidente da República timorense, José Ramos-Horta
escreveu aos atuais chefes de Estado e de Governo a defender que Timor-Leste
deveria acolher até mil refugiados da minoria étnica 'Rohingya'.
"Tenho
consciência da complexidade do problema. Não vamos salvar todos os refugiados.
Mas salvamos alguns. Temos milhares de imigrantes ilegais no nosso país e todos
eles estão a trabalhar. E não vamos acolher algumas centenas de mulheres e
crianças, de uma minoria étnica e religiosa mais desprezada do mundo?",
questiona na sua página no Facebook.
O
apelo que José Ramos-Horta explica ter remetido a Taur Matan Ruak, o Presidente
da República e a Rui Maria de Araújo, primeiro-ministro, surge numa altura em
que segundo o Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos cerca de 6.000
pessoas poderiam andar, atualmente, em barcos à deriva no sudeste asiático.
Vários
países, nomeadamente a Tailândia, Malásia e Indonésia, têm-se recusado a
acolher as embarcações com os refugiados, quer da etnia Rohingya (especialmente
da Birmânia) quer do Bangladesh, recorrendo a navios de guerra para os expulsar
das suas águas.
Ramos-Horta
considera que Timor-Leste tem condições de acolher "entre 100 e 1.000
refugiados Rohingya", durante um período entre 5 e 10 anos, os quais
poderiam ser instalados nas regiões de Laklubar ou Soibada, "lugares
pacíficos, mais ou menos despovoados, de clima ameno".
"Esta
é uma oportunidade única, histórica, para Timor-Leste se afirmar como um país
solidário, de valores humanos, morais e éticos", escreve na sua página.
O
Nobel da Paz sugere que o ACNUR mobilize recursos financeiros "para
construir aldeamento condigno, com água e saneamento, eletricidade, centro de
saúde e escola".
"Os
refugiados que queiram dedicar-se à agricultura, pecuária ou qualquer outra
atividade para autossustentação poderiam fazê-lo com apoio do ACNUR e do
Governo timorense", defende.
"Os
refugiados poderiam circular livremente em Timor-Leste com um cartão de
identidade emitido pelo ACNUR e pelo Ministério competente", refere.
Na
semana passada Zeid Ra'ad Al Hussein, o Alto-Comissário da ONU para os Direitos
Humanos disse-se chocado com a atitude da Tailândia, Malásia e Indonésia de
repelir milhares de migrantes esfomeados, com várias organizações
não-governamentais (ONG) a acusarem a Tailândia, a Indonésia e a Malásia de um
"pingue-pong humano".
Os
migrantes são sobretudo oriundos do Bangladesh, de onde fogem da pobreza, e da
Birmânia, onde a minoria muçulmana 'Rohingya' é perseguida.
Dezenas
de milhares de migrantes transitam todos os anos pelo sul da Tailândia, ponto
de passagem para a Malásia, mas Banguecoque declarou recentemente guerra aos
traficantes, interrompendo as rotas habituais de passagem de migrantes, depois
de ter encontrado valas comuns com corpos de clandestinos em plena selva, de
acordo com várias ONG.
A
Indonésia e a Malásia receiam um agravamento da situação e anunciaram que vão
recusar a entrada de todas as embarcações de migrantes, condenando os
passageiros a uma prisão flutuante.
ASP
(MDR/EJ) // FV.
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