Díli,
26 jan (Lusa) - O líder histórico timorense José Ramos-Horta disse hoje à Lusa
que não se vai recandidatar à Presidência da República nas eleições de março,
apesar de apelos nesse sentido de várias forças políticas e individualidades
nacionais.
"Depois
de muitos meses de reflexão, decidi não me candidatar. Depois de muita reflexão
e apesar de muitos apelos de muitos partidos e muitas personalidades, civis e
religiosas decidi não", disse à Lusa o ex-Presidente timorense e prémio
Nobel da Paz.
"Eu
não me candidato para coisa nenhuma, seja para Presidência ou qualquer outro
cargo, sem ter a certeza que isto é o que é realmente necessário para o país.
Que em determinado papel possa realmente contribuir efetivamente para a
consolidação da paz, das instituições democráticas no país", afirmou.
Ramos-Horta
explicou à Lusa que tomou a decisão depois de conversar com vários líderes
timorenses, incluindo o Presidente da República, Taur Matan Ruak, o ministro do
Planeamento e Investimento Estratégico Xanana Gusmão, o porta-voz do executivo,
Agio Pereira, e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, entre outros.
Conversas
sobre "os desafios" que vão ser enfrentados entre 2017 e 2022, sobre
o "tipo de governação" necessário para enfrentar esses desafios,
"quais as prioridades para assegurar a paz e o desenvolvimento mais
equitativo do país", disse.
"E
qual o papel de cada um de nós fundadores do país", salientou.
"Não
vejo que seja tão necessário que eu invista mais cinco anos na Presidência da
República", disse.
Para
Ramos-Horta "a última etapa da vida politica ativa interventiva dos
fundadores do país" deve procurar "consensos para unir os recursos,
as forças e as credibilidades que cada um tem" e apoiar ativamente "a
transição para uma nova geração" de líderes do país.
Ainda
com uma intensa agenda internacional, José Ramos-Horta diz que gostaria também
de se dedicar a apoiar o processo de adesão de Timor-Leste à Associação de
Nações do Sudeste Asiático, ao diálogo com os países vizinhos ou outros aspetos
da política externa timorense.
Ao
mesmo tempo quer criar em Timor-Leste um "instituto para o desenvolvimento
de liderança", com recursos nacionais e "parcerias de instituições e
países amigos".
"Isso
está integrado na preocupação de fazer a passagem em 2022 do comando do país
para a nova geração. Uma coisa é alguém ter um mestrado, um doutoramento, outra
é saber liderar e aplicá-lo no terreno Timor", disse.
A
declaração de Ramos-Horta põe fim a vários meses de especulação de que se
poderia apresentar como candidato independente às eleições presidenciais
marcadas para 20 de março, surgindo nesse caso como principal rival do
favorito, Francisco Guterres.
Recorde-se
que em 2007 José Ramos-Horta foi o segundo candidato mais votado na primeira
volta (21,81% dos votos), perdendo para Francisco Guterres "Lu-Olo"
(27,89%), conseguindo no entanto somar apoios na segunda volta, contra o líder
da Fretilin, obtendo 69,13% dos votos.
Em
2012, quando se voltou a apresentar, foi o terceiro mais votado na primeira
volta, com 17,3% dos votos, atrás de Francisco Guterres (28,76%) e Taur Matan
Ruak (25,71%), sendo este último o vencedor na segunda volta.
O
líder histórico timorense exerceu o cargo de Presidente entre 20 de maio de
2007 e 20 de maio de 2012, estando impedido - depois de ser baleado - de
exercer funções entre 11 de fevereiro e 17 de abril de 2008.
Ramos-Horta
disse que vai ficar à margem das campanhas para as presidenciais de março e
legislativas de julho, apelando à serenidade do que diz será uma campanha
"contundente" com "quatro grandes forças credíveis".
"Uma
é Xanana Gusmão/CNRT, outra Lu-Olo e Mari Alkatiri/Fretilin, outra é Taur Matan
Ruak/PLP e outra o PD, um partido já com 15 anos e que sobreviveu a grandes
desafios", disse.
"As
grandes figuras nacionais, dão confiança de que a eleição vai ser tensa, é
natural, em confrontação de ideias, mas que eles saberão orientar rigorosamente
os seus apoiantes para se comportarem coma dignidade que os líderes querem que
seja incutida nas eleições", afirmou.
"Sei
que é esse o compromisso de todos eles", sublinhou.
ASP
// EL
Sem comentários:
Enviar um comentário