quinta-feira, 28 de maio de 2015

GUINADA LIBERAL MARCA PRIMEIRO ANO DE MODI NO PODER DA ÍNDIA


Nos primeiros 12 meses no cargo, premiê reduziu impostos, dedicou mais verbas à infraestrutura e fechou acordos com potências econômicas. Para muitos, porém, ele ainda está longe de cumprir as promessas que fez.

As expectativas eram enormes quando Narendra Modi foi eleito primeiro-ministro da Índia, há um ano. Impulsionado pelo boom econômico no estado de Gujarat, o qual governou por mais de uma década, ele e seu partido, o nacionalista hindu Bharatiya Janata, venceram as eleições de 2014 e receberam a missão de salvar a economia indiana em crise.

Um ano depois, analistas dão uma nota mediana para seu governo. Embora a maioria concorde que seu desempenho foi melhor do que o de seu antecessor, muitos se queixam de que ele ficou muito longe de cumprir a promessa de dar novo gás à economia.

Um mérito de Modi é que ele tentou alinhar a política econômica indiana à iniciativa privada. O primeiro Orçamento completo do governo, o de fevereiro, prevê mais gastos em infraestrutura, um sistema de bem-estar social ampliado e uma inédita redução do imposto nacional sobre vendas em 25% nos próximos quatro anos. Economistas comemoram as medidas como passos na direção certa.

Foram aprovadas leis que permitem ao governo leiloar licenças de mineração, o que abriu caminho para um setor mais eficiente e liberalizado. Também devido a muitas outras medidas favoráveis à indústria, o PIB pode vir a crescer no próximo ano fiscal até 8,5% – e fazer da Índia a economia de crescimento mais rápido no mundo, enquanto a China se desacelera.

Da perspectiva da indústria e dos mercados, mais poderia ter sido feito. Mas, no geral, os líderes empresariais estão satisfeitos com as medidas do governo Modi. Uma pesquisa feita pela Forbes India e BMR Advisors indica que, entre os líderes mais velhos da indústria, a esmagadora maioria acredita que a política do governo fará a economia crescer.

Agricultores irritados

Mas vários obstáculos também impediram as reformas nos últimos meses. Houve controvérsia sobre as mudanças planejadas na lei de vendas de terrenos, prevendo facilitar a compra de terras por indústrias. Sobretudo agricultores e a oposição se uniram para impedir os planos.

O analista Milan Vaishnav, do Carnegie Endowment for International Peace, lembra que, embora o BJP jamais tenha governado tantos estados, a maioria das regiões ainda está nas mãos do partido do Congresso Nacional Indiano (INC) ou de legendas políticas locais. Outro problema, segundo ele, está na centralização excessiva do poder pelo primeiro-ministro.

"Isso irritou muitos ministérios e impediu, por consequência, a cooperação. Embora o governo tivesse o mandato exclusivo para reformar a economia indiana, ele só agiu de forma muito lenta e gradual", ressalta Vaishnav. "Os resultados após um ano mostram que Modi não fez justiça, nem de longe, às expectativas geradas por sua campanha eleitoral ou por sua retórica patética."

Viajando pelo mundo

Internacionalmente, entretanto, a situação é um pouco diferente. Nessa área, Modi tem se concentrado no fortalecimento das relações diplomáticas da Índia, em impulsionar o comércio e aumentar o investimento estrangeiro. No seu primeiro ano de mandato, ele visitou 19 países.

"Modi fez um grande trabalho ao representar a Índia como país de crescimento forte e dinâmico", frisa Rajiv Biswas, economista-chefe para a região Ásia-Pacífico da empresa de análises IHS. "Suas viagens para potências econômicas, como EUA, China, Japão e Alemanha, foram muito bem sucedidas", avalia Biswas. "Ele se reuniu com autoridades governamentais e com lideranças empresariais, sempre acompanhado por uma grande delegação empresarial indiana."

E os resultados aparecem. Vários acordos comerciais e de investimento foram assinados recentemente durante a visita de Modi à China. Contratos e cartas de intenção no valor de 22 bilhões de dólares foram firmados em Pequim.

"Modi viajou pelo mundo com muita destreza para sinalizar a governos, investidores e à própria diáspora indiana que 'a Índia está de volta', novamente pronta a fazer negócios. Por isso, sua visão de política externa se encaixa com a agenda econômica do país", diz Vaishnav.

Segundo Smruti Pattanaik, cientista político do instituto IDSA, de Nova Déli, ao apresentar o país ao exterior como uma potência industrial, o premiê espera atrair investimentos estrangeiros, facilitar a transferência de tecnologias e a criação de empregos no país.

"No coração dessa política está a campanha 'Make in India'", explica Pattanaik.

A eficácia da política externa de Modi depende, no entanto, da política interna e da capacidade de seu governo de reformar a economia do país.

"Há um ditado que diz que a melhor política externa da Índia é criar crescimento sustentado de 8%'", diz, por sua vez, Vaishnav. "Concordo plenamente. Isso fará com que investimentos entrem no país, permitindo o crescimento que Modi prometeu a seus eleitores", conclui o analista.

Deutsche Welle - Gabriel Dominguez (md)

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