Macau,
China, 05 mai (Lusa) - Os colóquios que o Fórum Macau organiza, desde 2011,
para os países de língua portuguesa são uma peça estratégica da diplomacia
chinesa, funcionando como um instrumento para melhorar a imagem do país,
segundo um estudo académico.
Em
"Os colóquios do Fórum Macau: Uma Ilustração da Diplomacia Soft Power da
China em relação aos Países de Língua Portuguesa", enviado hoje à agência
Lusa pelos autores, Émilie Tran e José Carlos Matias, ambos docentes da
Universidade de São José, defende-se que os seminários organizados pelo Fórum
para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua
Portuguesa têm, acima de tudo, o objetivo de fazer estes países "gostar da
China", uma nação que luta com problemas de imagem.
Os
colóquios, organizados desde 2011 em Macau, já incidiram sobre temas como
gestão empresarial, turismo, saúde pública, administração pública, lei comercial,
línguas, indústria ambiental, convenções e exposições, entre outras. Os
participantes de sete países de língua portuguesa são, em termos gerais,
funcionários públicos com posições-chave naquela área, ou empresários.
Além
da formação propriamente dita, os colóquios incluem viagens à China, e vários
momentos de entretenimento e lazer, onde estão sempre presentes representantes
chineses - a parte académica é adjudicada a instituições de ensino superior
locais.
Os
colóquios são também agendados habitualmente de modo a coincidirem com feiras
internacionais a decorrer na cidade, de modo a potenciar o estabelecimento de
negócios ou parcerias.
Por
que é que a China inclui os seus cidadãos em seminários destinados aos países
de língua portuguesa, que lhes permitem apenas a socialização a nível
individual? Porque "essa mistura [de pessoas] oferece oportunidades para
alimentarem laços durante os 14 dias de aulas, visitas de estudo, passeios,
coabitação e jantares em conjunto, em hotéis e restaurantes de luxo",
salientam os investigadores.
Os
colóquios são também pensados para "exibir as histórias de sucesso
económico da China, que abrem portas para oportunidades de desenvolvimento de
negócios e a outras áreas de cooperação, ao partilharem a fórmula do seu sucesso".
"Com
os colóquios do Fórum Macau, a China dedicou-se a trazer os países lusófonos
para o seu lado, acentuando o 'soft power' diplomático", afirma o estudo,
admitindo o número reduzido de participantes (407 entre 2011 e 2013), mas
destacando o seu perfil.
Esta
estratégia surge como forma de combater a ideia negativa que ainda persiste
sobre a China no mundo, quer seja devido à situação dos direitos humanos, à
poluição ambiental ou à corrupção no país.
Ainda
assim, os autores lembram que, de acordo com um estudo do Pew Research Center,
a imagem da China é mais favorável em África e na América Latina do que no
resto do mundo.
No
que toca à experiência encetada em Macau, através destes colóquios, a
estratégia tem sido bem-sucedida, argumenta o estudo: "A China conseguiu
avançar com a sua diplomacia 'soft power' ao exibir os seus feitos económicos,
partilhar a sua fórmula de desenvolvimento económico e criar uma rede de
oportunidades para as partes interessadas, ao incorporar feiras e fóruns nos
seminários".
No
entanto, esta componente académica é apenas uma peça da engrenagem. "O que
a China quer é que mais pessoas gostem dela. E isso está a funcionar",
afirmou Émile Tran.
Em
declarações à agência Lusa, a investigadora explicou que está agora em curso
uma segunda parte deste estudo, que se vai debruçar sobre o impacto dos
colóquios nos países recetores, tentando avaliar se contribuem para a adoção de
um modelo de desenvolvimento semelhante ao da China.
ISG
// VM
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