quarta-feira, 6 de maio de 2015

Colóquios do Fórum Macau para países lusófonos são estratégia diplomática -- estudo


Macau, China, 05 mai (Lusa) - Os colóquios que o Fórum Macau organiza, desde 2011, para os países de língua portuguesa são uma peça estratégica da diplomacia chinesa, funcionando como um instrumento para melhorar a imagem do país, segundo um estudo académico.

Em "Os colóquios do Fórum Macau: Uma Ilustração da Diplomacia Soft Power da China em relação aos Países de Língua Portuguesa", enviado hoje à agência Lusa pelos autores, Émilie Tran e José Carlos Matias, ambos docentes da Universidade de São José, defende-se que os seminários organizados pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa têm, acima de tudo, o objetivo de fazer estes países "gostar da China", uma nação que luta com problemas de imagem.

Os colóquios, organizados desde 2011 em Macau, já incidiram sobre temas como gestão empresarial, turismo, saúde pública, administração pública, lei comercial, línguas, indústria ambiental, convenções e exposições, entre outras. Os participantes de sete países de língua portuguesa são, em termos gerais, funcionários públicos com posições-chave naquela área, ou empresários.

Além da formação propriamente dita, os colóquios incluem viagens à China, e vários momentos de entretenimento e lazer, onde estão sempre presentes representantes chineses - a parte académica é adjudicada a instituições de ensino superior locais.

Os colóquios são também agendados habitualmente de modo a coincidirem com feiras internacionais a decorrer na cidade, de modo a potenciar o estabelecimento de negócios ou parcerias.

Por que é que a China inclui os seus cidadãos em seminários destinados aos países de língua portuguesa, que lhes permitem apenas a socialização a nível individual? Porque "essa mistura [de pessoas] oferece oportunidades para alimentarem laços durante os 14 dias de aulas, visitas de estudo, passeios, coabitação e jantares em conjunto, em hotéis e restaurantes de luxo", salientam os investigadores.

Os colóquios são também pensados para "exibir as histórias de sucesso económico da China, que abrem portas para oportunidades de desenvolvimento de negócios e a outras áreas de cooperação, ao partilharem a fórmula do seu sucesso".

"Com os colóquios do Fórum Macau, a China dedicou-se a trazer os países lusófonos para o seu lado, acentuando o 'soft power' diplomático", afirma o estudo, admitindo o número reduzido de participantes (407 entre 2011 e 2013), mas destacando o seu perfil.

Esta estratégia surge como forma de combater a ideia negativa que ainda persiste sobre a China no mundo, quer seja devido à situação dos direitos humanos, à poluição ambiental ou à corrupção no país.

Ainda assim, os autores lembram que, de acordo com um estudo do Pew Research Center, a imagem da China é mais favorável em África e na América Latina do que no resto do mundo.

No que toca à experiência encetada em Macau, através destes colóquios, a estratégia tem sido bem-sucedida, argumenta o estudo: "A China conseguiu avançar com a sua diplomacia 'soft power' ao exibir os seus feitos económicos, partilhar a sua fórmula de desenvolvimento económico e criar uma rede de oportunidades para as partes interessadas, ao incorporar feiras e fóruns nos seminários".

No entanto, esta componente académica é apenas uma peça da engrenagem. "O que a China quer é que mais pessoas gostem dela. E isso está a funcionar", afirmou Émile Tran.

Em declarações à agência Lusa, a investigadora explicou que está agora em curso uma segunda parte deste estudo, que se vai debruçar sobre o impacto dos colóquios nos países recetores, tentando avaliar se contribuem para a adoção de um modelo de desenvolvimento semelhante ao da China.

ISG // VM

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