Díli,
06 mai (Lusa) - A tripla interação entre a língua portuguesa, o tétum praça e a
fé católica e animista levou ao nascimento da "grande casa sagrada"
que é a nação timorense, afirmou hoje o ex-primeiro-ministro timorense Mari
Alkatiri.
"Para
se compreender a importância da língua portuguesa, tem que se entender a mesma
na sua interação com o tétum praça. E a interação entre as duas línguas e a fé
dos timorenses e entre o monoteísmo católico e a prática animista",
afirmou hoje em Díli.
Trata-se,
disse, de elementos que servem como "oxigénio" para a reafirmação da
identidade timorense, "em todo o seu mosaico" socio cultural pelo que
questionar qualquer desses elementos coloca em risco essa identidade.
Mari
Alkatiri falava num colóquio em Díli subordinado ao tema "Uma língua -
Várias identidades", inserido nos eventos da Semana da Língua Portuguesa
do Parlamento Nacional.
Em
resposta a perguntas da plateia, Mari Alkatiri criticou o que disse ser a má
política adotada nos últimos anos no ensino da língua, com comunicações no
setor público em inglês ou indonésio.
Como
exemplo do que diz serem erros políticos sobre esta matéria, recorda que quando
a troika chegou a Portugal foi convidado pelos então chefe de Estado, José
Ramos-Horta e primeiro-ministro, Xanana Gusmão, para os acompanhar a Portugal
"comprar dívida pública portuguesa".
"Tínhamos
6 mil milhões de dólares no fundo petrolífero e queriam comprar dívida pública.
Isso nem dá para fazer cantar um cego. Eu disse que preferia ir lá, mas era
para contratar professores portugueses", afirmou.
Alkaiti
insistiu que esta política é essencial para defender a soberania timorense no
contexto regional e sub-regional, e para defender o tétum que só se reforçará
com o português e que, se se tentar desenvolver com o inglês ou indonésio
"simplesmente desaparece".
"A
política nacional tem que ser muito clara. Se não o for seremos mais um país no
lago australiano ou um meio Estado na extensão da Indonésia. Essa é a
realidade", afirmou.
"Fomos
tão determinados a fazer a luta pela independência e estamos a perder a
determinação de defender esta independência, os elementos que garantem a defesa
desta independência", disse, criticando os que defendem o uso das línguas
maternas que contribuem para "balcanizar" o país.
Numa
intervenção em que recordou o papel da língua portuguesa em Timor-Leste,
"da colonização à libertação", Alkatiri disse que o português começou
como uma "língua política e sociocultural de dominação", algo que se
foi diluindo ao longo dos séculos.
Um
processo que ocorreu sem que o português tenha, em qualquer momento, deixado de
ter interação com a sociedade timorense que o procurava sempre como
aliado", especialmente nas duas ocupações, a japonesa e a indonésia.
"Os
timorenses intuitivamente ou empiricamente sabiam que a melhor forma de afirmar
a sua diferença era manter esse vínculo à identidade lusófona", algo que
os ajudava a defender-se das presenças invasoras "mais perigosas e
dominadores".
ASP
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