Macau,
China, 05 mai (Lusa) -- A diretora do programa de português da Universidade da
Califórnia, Deolinda Adão, defendeu hoje, em Macau, que o português tem vindo a
ganhar terreno nos EUA pelo desenvolvimento das economias do espaço lusófono e
por ser "uma língua mundial".
A
investigadora portuguesa falava sobre as perspetivas e desafios do ensino do
português nos Estados Unidos, no âmbito de uma conferência internacional que
decorre até quarta-feira na Universidade de Macau.
"Nos
últimos 20 anos, quase sempre uma das [opções de línguas estrangeiras] é o
espanhol e, historicamente, as outras línguas disponíveis têm sido o francês, o
alemão e o italiano. E com o declínio destas três línguas, outras têm surgido,
como por exemplo, o mandarim e o português", afirmou durante a palestra.
Em
declarações aos jornalistas, Deolinda Adão justificou que o desenvolvimento e
mediatismo alcançado pelo Brasil, com a organização eventos desportivos como o
campeonato do mundo de futebol (2014) ou os Jogos Olímpicos (2016), assim como
a emergência de algumas economias de países africanos de língua portuguesa --
particularmente Angola e Moçambique -- "também começaram a entrar na mente
de uma camada de pessoas nos Estados Unidos que fazem opções de língua".
"Tudo
isso contribui para que o português -- que realmente é uma língua mundial -- vá
ganhar terreno em línguas como o francês e o alemão, que não são línguas mundiais,
são línguas restritas a um pequeno espaço geográfico, e a um número limitado de
falantes", acrescentou.
Durante
a palestra, a professora citou várias estatísticas da Modern Language
Association, que estuda as matrículas nas línguas estrangeiras em universidades
norte-americanas, salientando, por exemplo, que enquanto em 1958 havia 582
alunos matriculados em cursos de português nos Estados Unidos, esse número
aumentou para 12.415 em 2013.
"A
Modern Language Association não considera o português como uma 'língua menos
ensinada' (less commonly taught), mas o Governo norte-americano considera, o
que, para nós, é bom, porque podemos apresentar projetos", defendeu.
No
entanto, a investigadora portuguesa apontou que "a insistência no termo
produtividade" nas universidades norte-americanas está a criar entraves ao
crescimento da aprendizagem de português no país, tendo dado o exemplo da
Universidade da Califórnia onde leciona e por vezes é difícil conseguir formar
turmas de português, por serem necessárias pelo menos 35 inscrições na aula.
Já
no ensino primário e secundário, as dificuldades estão na falta de professores
credenciados, "porque os requisitos são diferentes de estado para estado
nos Estados Unidos, o que faz, com que, por exemplo, um professor de português
em Portugal não possa lecionar num estado qualquer dos Estados a não ser que
exista um protocolo especial".
"Claro
que os leitores do Camões - Instituto da Cooperação e da Língua estão isentos
destas restrições, mas também não estão a ensinar no nível primário e
secundário, estão nas universidades, em que há mais flexibilidade. Mas, por
exemplo, uma pessoa com um doutoramento em português não pode dar aulas na
secundária, nem sequer na primária, o que para nós parece um pouco perturbador.
(...) Há uma lacuna de credenciados para esses níveis", sublinhou.
FV
// VM
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