quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Comunicação social em Timor-Leste partidarizou-se, diz Presidente do Conselho de Imprensa


Luanda, 29 out (Lusa) - O presidente do Conselho de Imprensa timorense, Virgílio da Silva Guterres, lamentou hoje à agência Lusa, em Luanda, que a comunicação social em Timor-Leste se tenha "partidarizado", admitindo, porém, que ainda há quem lute por um jornalismo independente.

Virgílio Guterres, que participou na capital angolana na VII reunião da Plataforma das Entidades Reguladoras da Comunicação dos Países e Territórios de Língua Portuguesa (PER), que terminou domingo, realçou, no entanto, que Timor-Leste lidera a liberdade de imprensa na região do sudeste asiático.

"No início da restauração [da independência, em 2002], a existência dos meios de comunicação era para ser um instrumento de controlo social ou um instrumento de comunicação entre o público e o poder, o que reflete a responsabilidade tradicional do jornalismo. Agora, com a luta de poder, com os políticos e com a competição económica, os órgãos de comunicação social estão a transformar-se na razão de ter mais acesso ao poder político e económico", afirmou.

Para Virgílio Guterres, aliás, a filiação política da comunicação social timorense pôde ver-se "transparentemente" durante a campanha eleitoral das eleições legislativas de maio deste ano.

"Partidarizaram-se. A linha editorial partidarizou-se e nas campanhas [os órgãos de comunicação social] deram mais espaço aos partidos com quem têm vínculo", frisou.

Questionado pela Lusa sobre se o jornalismo independente em Timor-Leste acabou, ou segue essa tendência para acabar, Virgílio Guterres admitiu que o cenário é complexo.

"Dizer que acabou não, porque há a esperança do público e também de alguns profissionais em manter a independência editorial, para salvaguardar o interesse e o direito público de obter a informação de qualidade ainda permanece. Terão é de se agregar esses esforços e princípios morais para se tornarem a força dominante, face às forças políticas e económicas que estão a tentar dominar a independência editorial", respondeu.

Sobre a liberdade de imprensa, o presidente do Conselho de Imprensa timorense lembrou que Timor-Leste ocupa o primeiro lugar no índice respetivo na região do sudeste asiático e que, globalmente, se situa no 97.º posto - "estamos no bom caminho".

"O que agora nos preocupa é a quantidade e o conteúdo das notícias. Será que estas informações são as requeridas e esperadas pelo público? Esta é uma questão a ser discutida em Timor-Leste entre os jornalistas e os políticos", questionou.

O presidente do Conselho de Imprensa timorense lamentou, por outro lado, a inexistência de um quadro legal para a Comunicação Social, apesar de a existência da imprensa estar "bem garantida" na Constituição.

"O que falta agora são os quadros legais. Falta a Lei da Rádio e da Televisão, ainda não existe, falta a Lei do Direito do Acesso às Fontes de Informação. Vamos ter de tratar disso e comunicar ao Governo para que se comece a trabalhar nalgum esboço", afirmou Virgílio Guterres.

JSD // PJA

Na imagem: Virgilio Guterres

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