domingo, 10 de maio de 2015

APLICAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO EM TIMOR-LESTE AINDA É PREMATURA


Díli, 10 mai (Lusa) - Timor-Leste continua mergulhado no debate sobre a conveniência de ensinar e aprender o português e ainda longe de temas sobre "a finura" da língua, como os do Acordo Ortográfico (AO), disse à Lusa um dos principais linguistas timorenses.

"Não se chegou ainda aos níveis de debate de subtileza da língua. Ainda estamos muito longe. A grande prioridade é a disseminação da língua em si e não se é a antiga ou a nova", explicou à Lusa Benjamim Corte-Real, diretor-geral do Instituto Nacional de Linguística (INL) da Universidade Nacional de Timor Lorosae (UNTL).

Corte-Real considerou que, em Timor-Leste, temas como os debates relacionados com o Acordo continuam distantes, apesar do INL estar já a trabalhar no sentido da sua implementação.

"Na comissão nacional do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), trabalhamos já em perfeita sintonia com o AO, embora alguns membros não tenham o domínio perfeito", afirmou.

"O estado de espírito, mesmo a nível do ministério é no sentido de implementar o AO", sublinhou.

Mas esses debates mais técnicos ainda estão longe, até porque importa é disseminar o português por Timor-Leste, processo, disse, que exige "que se intensifique a leitura, se cultive a leitura, a sensibilidade artística da língua".

"Temos que criar um espírito competitivo. Uma campanha forte para se ter noções mais finas do uso da língua. A minha perceção é que há disposição, prontidão por parte da população em geral sobre o português. Basta ir injetando incentivos para as pessoas poderem começar essa nova aposta", afirmou.

Timor-Leste ratificou o AO em 2009, com três resoluções do Parlamento Nacional sobre a matéria: 14/2009 que aprova a adesão, a 18/2009 que aprova o segundo protocolo modificativo e a 19/2009 que aprova o protocolo modificativo.

O tema voltou a suscitar alguma atenção só no ano passado quando se deslocou a Timor-Leste uma delegação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) para ajudar a promover a o Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), o Portal do Professor de Português (PPPLE) e o Vocabulário Ortográfico Nacional de Timor-Leste (VON-TL).

Tal com ocorre em Portugal ou noutros países, em Timor-Leste também se ouvem vozes com opiniões discordantes sobre vantagens e desvantagens do AO, ainda que, pela situação do país, este seja um debate "muito prematuro".

Sobre aspetos mais técnicos, como um maior recurso á fonética que o AO implica, Corte-Real admitiu que simplificações como retirar letras mudas pode ajudar em palavras 'importadas' do português para o tétum, como 'ação'.

"O tétum segue o princípio de que para começar é melhor começar simples e fácil. Não é sempre fonética, nem fonémica. Mas retirar as consoantes silenciosas, por exemplo, pode, na correspondência, ser uma coincidência feliz", afirmou.

"É maior vantagem para o tétum escrever hospital sem H. Do ponto de vista do tétum. Mas isto não significa que vamos escrever em português sem 'h'. Já retirar o 'c' mudo de uma palavra portuguesa faz muito sentido, no caso das palavras importadas", referiu.

Corte-Real recordou que, nos primeiros anos da ocupação indonésia, quando o indonésio era imposto aos timorenses, muitos também tinha alguma resistência, mas que hoje a realidade é outra.

"O indonésio não foi logo aprendido nos primeiros anos. Foi muita criticado. Aprendiam palavras soltas para passar a mensagem falsa de submissão, para assegurar a sobrevivência. Mas foi sempre visto como algo inferior ao estatuto das línguas já conhecidas em Timor na altura, nomeadamente o português", afirmou.

O Acordo Ortográfico foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, à exceção de Angola e Moçambique. Em Angola ainda nem foi aprovado pelo Governo e em Moçambique aguarda a ratificação pelo parlamento.

Portugal e Brasil estabeleceram moratórias para a aplicação do acordo, estando prevista a entrada em vigor efetiva a 13 de maio e a 01 de janeiro próximos, respetivamente.

ASP // VM

AGROALIMENTAR PORTUGUÊS À CONQUISTA DO PALADAR CHINÊS


Pequim, 10 mai (Lusa) - Conservas, vinhos, sumos de frutas, concentrados de tomate e outros produtos agroalimentares portugueses estão a implantar-se gradualmente no mercado chinês, concretizando uma "aposta prioritária" do setor, indicou à agência Lusa um técnico da associação empresarial PortugalFoods.

"Há uma crescente procura por parte da China. Viemos com oito empresas, mas se tivéssemos conseguido mais espaço, podíamos ser 12", disse João Carvalho, da divisão de marketing da PortugalFoods, acerca da participação portuguesa na SIAL China 2015, concluída no fim de semana em Xangai.

Trata-se da edição chinesa do Salon International Alimentaire (SIAL), que atraiu este ano cerca de 2.750 expositores de mais de 50 países e regiões.

Criada em 2009 para promover internacionalmente o setor agroalimentar português, a Portugalfoods participou pela quarta vez no certame, considerado um dos maiores do género na Ásia.

"A China é um mercado difícil, com elevados desafios, mas também com oportunidades significativas", realçou João Carvalho.

Segunda economia mundial e vasta população com crescente poder de compra, a China foi definida pela PortugalFoods como uma das suas "apostas prioritárias" fora da União Europeia, ao lado dos Estados Unidos e do Médio Oriente.

"Cada mercado tem as suas particularidades", salientou.

O Médio Oriente, por exemplo, tem o maior consumo de doces per capita, e na China e na Ásia em geral, as conservas são produtos com grande aceitação, referiu o técnico.

João Carvalho apontou o caso de uma conserveira que "já exporta cerca de 1,5 milhões de euros por ano" para a China.

As oito empresas reunidas no stand da PortugalFoods em Xangai foram: Licobidos, Conserveira do Sul, Du Bois de la Roche, Mount of Louzeiras, Sugal Alimentos, Nutricafes, Nutrigreen e Conservas Portugal Norte.

Através de agentes ou importadores locais, estiveram também presentes a Serrata, Casa do Crespo - Fábrica de Doçaria, Mathias II, Sumol+Compal, Danesita, Casa Anadia, Vinilourenço, Porto World e Sogrape.

O certame coincidiu com um bom momento das relações comercias e económicas luso-chinesas.

Pelas contas da Administração-geral das Alfândegas Chinesas, em 2014, as exportações portuguesas para a China cresceram 18,8% em relação ao ano anterior, ultrapassando pela primeira vez 1.600 milhões de dólares (1.428 milhões de euros).

AC // VM

INDONÉSIA DESMANTELA REDE DE PROSTITUIÇÃO COM ARTISTAS FAMOSOS


Banguecoque, 10 mai (Lusa) -- A polícia da Indonésia está a investigar uma rede de prostituição ilegal que desmantelou esta semana e que oferecia, através da Internet, serviços com artistas de cinema e da televisão famosas.

O presumível 'cérebro' da operação, um indonésio identificado como Obbie, foi detido na sexta-feira em Jacarta, de acordo com fontes policiais citadas pelo jornal Republika.

À frente do negócio estava uma mulher -- também indonésia --, à qual foi apreendida uma agenda com nomes de 200 artistas.

As operações desenrolavam-se sobretudo em hotéis de luxo da capital, com os clientes a serem contactados através de aplicações de Internet para telemóveis.

A polícia também deteve uma protagonista de telenovelas na passada sexta-feira num hotel que acabara de cobrar a um cliente 7.700 dólares (6.872 euros) por três horas na sua companhia.

A lei indonésia não reconhece a prostituição, tipificando apenas os "delitos contra a decência e a moralidade", pelo que a sanção a aplicar depende do critério das autoridades e a prática encontra-se muito estendida pelo arquipélago.

DM // VM

AUTORIDADES RESGATAM CERCA DE 500 IMIGRANTES NO MAR DA INDONÉSIA


Jacarta, 10 mai (Lusa) -- Perto de 500 imigrantes da Birmânia e Bangladesh foram hoje resgatados do mar na província de Aceh, na ponta norte da ilha de Sumatra, na Indonésia, informou um oficial dos serviços de socorro e emergência deste país asiático.

"Fomos alertados por pescadores de que barcos com pessoas estavam em apuros no mar, ao norte de Aceh. Enviámos equipas para o local que resgataram 469 imigrantes Rohingyas da Birmânia e Bangladesh. Há mulheres e crianças. Até agora, estão todos bem", disse o chefe dos serviços de emergência provinciais, citado pela agência de notícias francesa AFP.

Este responsável acrescentou que o grupo de pessoas foi levado para um centro de detenção, situado a norte da província de Aceh, onde a polícia e oficiais dos serviços de imigração vão investigar o sucedido, incluindo as motivações desta viagem.

"Um dos imigrantes, que falava malaio, contou que o agente [que organizou a viagem] disse-lhes que estavam na Malásia e que deviam nadar até à praia", explicou um outro responsável dos serviços indonésios, acrescentando que "alguns o fizeram", mas que mais tarde foram encontrados por pescadores que os informou de que estavam afinal na Indonésia.

Este responsável disse ainda que a bordo seguiam 83 mulheres, uma das quais grávida, e 41 crianças, algumas com menos de 10 anos, que precisaram de assistência médica.

Ao longo dos últimos anos, milhares de muçulmanos Rohingya têm tentado fazer a perigosa travessia por mar desde a Birmânia até ao sul da Tailândia.

O objetivo final da maioria destas pessoas é chegar até à parte muçulmana da Malásia, mas muitos acabam por cair nas mãos de traficantes de seres humanos, na Tailândia.

As Nações Unidas consideram que a comunidade Rohingya é uma das minorias mais perseguidas do mundo.

As autoridades estimam que haja cerca de 800.000 imigrantes Rohingya no Bangladesh que, nos últimos anos, têm sido alvo de violência sectária, levando à fuga de muitos deles.

JGS // VM

Whistleblower Reinstated in UN Sex Abuse Scandal

Lizabeth Paulat

In late April, after 30 years of service providing humanitarian aid, Anders Kompass was put on suspension by the UN. His mistake? Leaking a report which detailed sexual abuses carried out by French soldiers stationed in the Central African Republic. This week, Kompass made headlines again when a tribunal at the UN ordered his suspension be lifted immediately, calling it “unlawful.”

It all started last summer, when Kompass was made privy to a confidential report detailing a sex-for-food scandal, where children, aged 8-15, were given basic goods in exchange for sexual favors.

The children who were interviewed by UN personnel talk of being raped and sodomized and given ‘sweets’ in exchange. The abuse was allegedly carried out by French peacekeeping troops who were there on a Minusca peace keeping mission. The report also noted that the children they interviewed were likely representative of a much large number of sexual abuse victims.

Kompass became upset when UN officials failed to take action and took matters into his own hands, passing the report along to the French authorities. Members of the French government wrote back, thanking Kompass for bringing the report to their attention and promising to launch a full scale investigation. It seems the UN knew about the correspondence, and didn’t discipline Kompass at the time. Yet months later, he found himself being suspended for “breaching protocols.”

Outrage and headlines reported the suspension and a tribunal was soon set up. Then, on Wednesday, a judge ruled his suspension be temporarily lifted until an internal investigation could be completed. Yet despite this win, many are pointing out that this is all part of a much larger issue.

Paula Donovan, co-director of AIDS Free World, who passed the along the report to The Guardian, told them, “The regular sex abuse by peacekeeping personnel uncovered here and the United Nations’ appalling disregard for victims are stomach-turning, but the awful truth is that this isn’t uncommon. The UN’s instinctive response to sexual violence in its ranks – ignore, deny, cover up, dissemble – must be subjected to a truly independent commission of inquiry.”

It’s true that in many areas of the world UN peacekeeping troops are given a wary eye. This is especially true when it comes to sexual abuse. According to the Christian Science Monitor, women in Kosovo routinely underwent rape and sexual abuse by those on peacekeeping missions. In West Africa, there were reports of aid being withheld in exchange for sex. In the DRC, numerous testimonials regarding the rape of both women and children at the hands of peacekeepers have emerged. And allegations of rape and exploitation from East Timor, Cambodia, Somalia, Burundi and Haiti have also come to light.

The danger of peacekeeping forces has been an open secret for years. In the book Emergency Sex and Other Desperate Measures, a tell-all authored by three former UN workers, Andrew Thompson, who worked in both Rwanda and Bosnia gives this advice to those in war zones: “If blue-helmeted UN peacekeepers show up in your town or village and offer to protect you, run. Or else get weapons. Your lives are worth so much less than theirs.”

Although many inside the UN feel that the actions of a few should not taint the overwhelming efforts of thousands, what is most disturbing is that nothing is coming of these reports without someone breaking protocol. This suggests that peacekeepers perpetrating some of the most violent and despicable acts known to humankind are being routinely ignored by higher-ups within the organization.

This lack of action, oversight and transparency in dealing with sexual assault has created a level of complicity that the UN must work to remedy, rather than suspending those who forced by organizational inaction into making the only ethical choice.

Care 2

Support for Saharawi cause is constant principle in our foreign policy


Dili (Timor Leste)   09 May 2015 (SPS) - Minister of Foreign Affairs and Cooperation of Timor Leste H.E. Hernani Coelho has reiterated that support for the Saharawi cause is a constant principle in the foreign policy of his country, during a meeting with the SADR Ambassador, Mr. Mohammed Slama, at the headquarters of the Foreign Ministry in Dili.

"In East Timor change affects walks of life, governments alternate, and support for the just Saharawi cause remains a common denominator and constant principle in our foreign policy," reaffirms Mr. Coelho.

The Timorese Minister of Foreign Affairs and Cooperation renewed his country's firm position in support of the just cause of the Saharawi people, stressing in the same context that the resolute and supportive position for the Sahrawi cause remains one of the constant principles of the foreign policy of East Timor.

He also stressed his country's desire to play a "special role" for the benefit of the Saharawi cause at the regional and global levels.

For his part the Sahrawi Ambassador, Mr. Mohamed Slama, reviewed the developments related to the Sahrawi issue, especially the recent Security Council resolution 2218 that extends the mandate of the UN Mission for the Referendum in Western Sahara for another year. (SPS)

Shara Press Service

Lokalizasaun Fatin Prostituisaun Tenki Aseita Husi Parte Hotu


DILI - Lokalizasaun fatin prostituisaun iha rai laran, presiza iha konkordansia ou aseitasaun husi parte hotu, atu nunee bele evita prostituisaun ilegal.

Presidente Komisaun F (PN), nebe trata asuntu Saude no Edukasaun, deputadu Virgilio Hornai hatete, lokalizasaun fatin Prostituisaun nee prematur liu atu kolia, tamba nee liga ba politika nia desizaun, aseitasaun hamutuk iha konsensus atu nunee bele evita buat ida prostituisaun ilegal.

Hau hanoin lokalizasaun fatin Prostituisaun nee prematur liu ita kolia, tamba primeiru hanesan ema politiku hau hatete nee parte hanoin diak ida, maibee ita mos lahaluha hanoin mos igreja katolik sira ninia hanoin politika ida nee, para atu nunee ita bele inteira malu, tamba nee liga ba politika ida mais politika ida ninia desizaun nee bele halo bainhira ita iha aseitasaun ida hamutuk iha konsensus ida ba ida nee para atu nunee ita bele evita buat ida prostituisaun ilegal,” dehan deputadu Virgilio ba STL, iha PN, Dili, Sesta (08/05/2015).

Iha fatin hanesan membru komisaun F, nebe trata asuntu Saude no Edukasaun deputadu Eladio Faculto hatete oinsa koloka atu lokaliza nee signifika katak atu bele halo kontrolu mediku ba ema nebe mak halo relasaun prostituisaun, tamba nee nesesidade biologika. Informasaun kompletu iha STL Jornal no STL Web, edisaun Sabado, (9/5/2015). Carme Ximenes

Suara Timor Lorosae

Aumenta Koinesementu Labarik, Fidelis Lansa Livru Taur


DILI - Atu aumenta koinesementu labarik sira nian ba historia Timor Leste, Xefi Casa Sivil Palasiu Prezidensial Fidelis Magalhaes Lansa Livru ho titlu “Taur Matan Ruak husi Ailaran ho Mehi boot” nebe hakerak husi Bela Gailhos.

Hafoin Lansa Livru, Xefi Casa Sivil Prezidente Repúblika Fidelis Magalhães hatete, atu dezenvolve nasaun Timor-Leste iha momentu sira hanesan nee, laos deit husi semente maibe tenki liu mos husi livru.

“Livru mak sai hanesan mata dalan ba pasadu, imagina ba futuru no morin iha prezente tamba nee ita lansa Livru ho titulu “Taur Matan Ruak Hosi Ailaran ho Mehi Bo’ot” neebe hakerek husi Bella Galhos,” dehan Fidelis ba Jornalista Kinta (07/05/2015) iha Palaciu Prezidensial Nicolau Lobato.

Iha fatin hanesan hakerek nain Bella Galhos hatete, nia durante nee sempre tuir bebeik Prezidente Repúblika Taur Matan Ruak no rona nia lian siak la halimar ne’ebe bolu, fanu, dudu, maibe i ema bo’ot mak komprende labarik ki’ik sira la komprende, tan nee nia hakerek tiha ba Livru. Informasaun kompletu iha STL Jornal no STL Web, edisaun Sabado, (9/5/2015). Timotio Gusmao

Suara Timor Lorosae

BOM DIA OUVINTES DA RÁDIO TIMOR-LESTE!


Timor-Leste, como é sabido, foi a primeira nação a despontar no século XXI, libertando-se de um passado colonial e de ocupações que marcaram profundamente o seu povo. O rádio esteve presente nos momentos decisivos dessa história, quer no relato da violência a que o povo era sujeito quer como veículo de comunicação da resistência ao invasor.

Ainda recentemente Mari Alkatiri, líder da Fretilin, ofereceu ao Arquivo e Museu da Resistência Timorense (AMRT) o equipamento de rádio usado pela Rádio Maubere para comunicar com a Austrália nos primeiros anos da invasão de Timor-Leste, entre 1975 e 1978. Na ocasião Mari Alkatiri, actual Presidente da ZEESM Oecussi, lembrou que era o único meio de comunicação entre Timor-Leste e o exterior depois da invasão indonésia, a 7 de dezembro e até dezembro de 1978, a Rádio Maubere esteve, muitas vezes, em movimento pelas montanhas do país.

Com emissões em português, inglês e tétum, a rádio permitiu à Fretilin enviar mensagens codificadas para o exterior que, nos primeiros anos, permitiram perceber a dimensão de algumas das primeiras grandes operações das forças invasoras da Indonésia. O rádio era então o meio de comunicação mais popular e foi por ele que os timorenses ouviram as notícias do 25 de Abril de 1974. No ano seguinte, o país foi invadido pelos indonésios, que, durante 25 anos, controlaram a mídia oficial e perseguiram os meios que serviam o movimento de resistência em particular a rádio clandestina das Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor-Leste (FALINTIL).

De 1999 a 2002, período de transição pós-referendum, quando o país esteve sob o comando da Administração Transitória das Nações Unidas para Timor-Leste (UNTAET), e antes de haver definição das línguas oficiais a Rádio UNTAET FM realizava transmissões em quatro idiomas, a saber: inglês, indonésio, português e tétum.

Ao que julgo saber, hoje, o rádio encontra-se presente em vários pontos do território e tem audiência em localidades distantes e de difícil acesso havendo pelo menos 14 emissoras comunitárias, que emitem em FM cobrindo quase todo o país com as transmissões a serem feitas principalmente, em língua tétum e em dialectos locais mas algumas delas já introduziram o português em parte da programação. Há também rádios em inglês, emissoras de ondas médias, uma emissora evangélica, serviços internacionais da RDP portuguesa, da BBC inglesa e a emissora oficial, a Rádio Timor Leste, da Rede de Rádio e Televisão Timor Leste (RTTL). Pode-se, igualmente, captar emissoras estrangeiras em FM da Austrália, Indonésia e de Portugal.

Em Timor-Leste, ainda subsiste a escuta colectiva e é através do rádio que as informações se divulgam mais rapidamente, sendo a classe popular, privada do acesso a outras mídias, que mais utiliza o rádio como meio de informação.

O novo Governo liderado por Rui Maria Araújo por certo que não ignora esse facto dado que no seu programa pode ler-se no item 1.10.4 Encorajamento da diversidade dos meios de comunicação social que o “Governo promoverá a consolidação do papel da Rádio e Televisão de Timor-Leste, enquanto empresa pública, e providenciará a capacitação e os materiais necessários para a profissionalização da organização. O Governo continuará a apostar no reforço da capacidade das Rádios Comunitárias, enquanto instrumento de informação e coesão junto das comunidades locais. De igual modo, o Governo procurará incentivar o investimento do sector privado nos meios de comunicação social, a fim de fomentar um ambiente competitivo e de conseguir um sector de comunicação social diversificado, responsável e dinâmico.

Portanto, a par da aposta que o actual executivo já realiza nas redes sociais também nesta área percebe da importância deste meio na formação de uma sociedade timorense mais informada, culta, inclusiva e participativa além de se poder constituir também como um veículo de difusão de uma maior alfabetização no domínio das línguas oficiais, Tétum e Português.

A este propósito vem-me à memória que em 2001 o Batalhão Português a solicitação de várias personalidades timorenses, com o apoio de alguns jornalistas portugueses presentes no território em particular Antonio Sampaio da Lusa e António Valadas da RDP, aproveitando do facto de para a cobertura das transmissões do sector à sua responsabilidade ter instalado dois repetidores de rádio, um localizado no Remexio e outro já perto de Manufahi, juntou a estes meios um emissor da RDP. Esse emissor recebia o sinal de Díli e depois retransmitia-o para aumentar a cobertura dessa emissão, para toda a região envolvente. O sinal da RDP era recebido através da emissão de satélite e replicado a partir dos repetidores para toda a região de Díli, Aileu, Liquicá e Same.

Em simultâneo foram distribuídos pelos habitantes dos sucos destes distritos 5000 rádios a pilhas graciosamente fornecidos pela Phillips Portugal numa actividade de cooperação civil-militar com o objectivo de conquistar a confiança dos timorenses e difundir a língua portuguesa. Esta actividade teve um efeito que em tudo ultrapassou as expectativas. A procura junto do Batalhão por um rádio a pilhas obrigou a solicitar mais equipamentos à empresa e foi muito curioso passar a ouvir-se por todo o território abrangido os relatos dos jogos do Benfica, Porto ou Sporting com os gritos de golo e a euforia provocada pelo resultado a quebrar a altas horas da madrugada o silêncio da noite timorense dada a diferença horária a que aconteciam os desafios.

Os timorenses acolheram a rádio falada em português como sua e se por algum motivo de natureza operacional o Batalhão se via forçado a desligar temporariamente o emissor as queixas sucediam-se de imediato. Para ilustrar este interesse do povo neste meio, aquando da distribuição dos rádios num suco junto a Maubara, um dos timorenses a quem já tinha sido distribuído o rádio não querendo esperar pelas indicações de funcionamento do aparelho resolveu ligá-lo com o botão de volume no máximo o que junto com a falta de sintonia prévia originou um tal zumbido que o homem largou o rádio e desatou a fugir. Um dia depois voltou ao Batalhão a reclamar do seu rádio porque o sobrinho já lhe tinha mostrado como funcionava e portanto não dispensava o “brinquedo” bem como queria que lá voltasse para dar um rádio a cada um dos membros da sua família.

Acrescente-se a bem da verdade que na ocasião apenas a boa vontade de alguns portugueses entusiasmados com a ideia, o espirito de missão dos militares do Batalhão (PORBATT/UNTAET) associada à genialidade técnica da equipa de transmissões permitiu tornar realidade este cenário.

Mais recentemente, numa das minhas viagens a Timor-Leste, percebi do desagrado de muitos timorenses e também da comunidade portuguesa sobre as frequentes falhas de serviço da RDP a somar às justificadas queixas sobre a inadequada programação da RTPi. Registei inclusivé o voluntariado de alguns portugueses ali residentes em trabalho que se quotizavam para a compra do combustível necessário a manter o funcionamento do gerador que garante a energia do emissor RDP. Embaixada Portuguesa e Governantes portugueses com responsabilidades na política externa parecem ficar alheados a este facto e ignoram as críticas surgidas nas redes sociais lhe são dirigidas, o que prova que há coisas que raramente mudam. Chegam-me entretanto notícias que através de um protocolo com a RTTL o problema se terá solucionado não obstante a programação continue a ser no entender de muitos dos ouvintes totalmente desadequada. A distância mata é certo mas a vontade política quando existe aproxima com facilidade as nações e as comunidades.

Hoje, numa sociedade em que o analfabeto paradoxalmente já não é apenas aquele que não sabe ler nem escrever mas sim o que não tem um endereço de e-mail ou não sabe usar um computador, o rádio além de continuar a ser um meio de comunicação de massa ele pode também em sociedades com menor acesso a recursos tecnológicos, ser usado para fins educativos e culturais, procurando atingir a pessoa onde ela estiver para desenvolver suas potencialidades. Se a sua programação apostar na divulgação e orientação educacional, pedagógica e profissional, a que junta informação crítica e de qualidade com uma programação cultural de interesse das audiências o rádio não elimina o papel do professor mas antes o ajudam a desenvolver sua tarefa principal que é a de educar para uma visão mais crítica da sociedade e portanto para uma cidadania mais activa.

No caso de Timor-Leste, um país com um grande índice de analfabetismo mas hoje já com grande cobertura da rede de comunicações e energia eléctrica, a rádio continua a poder combater o isolamento da população. A televisão, a internet estão mais reservadas às áreas urbanas e a oralidade, a transmissão verbal de conhecimento assume uma importância capital na passagem de informação e conhecimento de geração em geração. A rádio continuará por mais uns tempos a ser um meio de comunicação alternativo e dinâmico, assumindo um papel preponderante, contribuindo para resgatar o cidadão timorense do anonimato permitindo-lhe ser um interveniente activo na discussão dos problemas locais (saúde, educação, agricultura, gestão ambiental e dos recursos naturais, posse da terra, etc), dando-lhe mais liberdade de acção e de pensamento na sua afirmação enquanto actor com propriedade do seu espaço e cultura afirmando-a no seio de uma comunidade que tem no português a sua língua comum.

Porta 351 - Foto Sapo TL