sábado, 11 de abril de 2015

PM timorense "mete" jornalistas na valeta para apelar à limpeza ambiental



Díli, 10 abr (Lusa) - O primeiro-ministro timorense, Rui Maria Araújo, 'convenceu' hoje um grupo de jornalistas a limpar uma valeta na montanha nos arredores de Díli, um gesto 'simbólico' para mostrar a necessidade do envolvimento comunitário na limpeza da cidade.

"Vamos dar o exemplo. Ajudem aqui", disse, antes de ele próprio, com os efetivos do corpo de segurança pessoal que o acompanham, saltar para a valeta para retirar pedras caídas da montanha.

A paragem, a caminho de Hera, na montanha que, a oriente, rodeia a grande baia de Díli, marcou parte de uma manhã dedicada a avaliar a situação das estradas e valetas da cidade, onde o lixo se acumula e, cada vez que chove, as inundações se alastram.

Primeira paragem nas traseiras do Palácio Presidencial Nicolau Lobato em Díli, na zona do antigo heliporto, onde hoje de manhã dezenas de pessoas, máscaras brancas, tentavam limpar o lixo da zona.

"A nível da limpeza da cidade, o problema não está na vontade política ou na falta de capacidade mas sim na falta de organização. Com a centralização do poder de decisão sobre a limpeza das zonas urbanas dificultam ainda mais o processo de mobilização da comunidade", explicou à Lusa durante a visita.

Num edifício administrativo local próximo, Rui Araújo falava para vários responsáveis locais e municipais, clarificando logo a abrir que hoje "não é dia de diálogo mas de orientações".

E as orientações são claras: a limpeza das ruas das cidades e vilas tem de ser descentralizada, as comunidades têm que se envolver, a limpeza é uma questão de saúde pública e cada um pode ajudar "ainda que seja a limpar à frente de sua casa".

"Hoje dei orientações claras para que a limpeza das áreas urbanas, das vilas, seja da responsabilidade dos municípios. Os administradores dos municípios devem mobilizar os administradores dos postos, estes mobilizar os chefes de suco e finalmente os chefes de suco mobilizar a comunidade para a limpeza no espaço residencial de cada um. E não ficar à espera que seja o estado a fazer isso tudo", afirmou.

"É uma questão de saúde pública. Devemos responsabilizar a comunidade", afirmou.

Rui Maria Araújo admite que, em Timor-Leste, há que fazer mais trabalho a montante, tanto para explicar a dimensão cidadã do Estado como para informar melhor as pessoas sobre o tratamento do lixo.

"Nesta fase de construção do Estado as pessoas ainda veem o Estado como uma entidade distante, a que as pessoas não pertencem. Como se o Estado fosse o Governo, os ministros ou os funcionários públicos", disse à Lusa.

"Esse conceito de o Estado 'somos todos' ainda está muito vago. Há esse problema de participação", disse.

O chefe do Governo insistiu que o Estado, através das obras públicas e dos departamentos técnicos de água e saneamento, tem a responsabilidade de velar pela manutenção dos esgotos principais, "para evitar que fiquem entupidos e nas chuvadas provoquem inundações".

Mas o trabalho tem que diário, de manutenção, porque, considera, "em 50% das estradas principais do país poderia prevenir-se a destruição das estradas se as valetas fossem mantidas regularmente".

"Estamos a gastar muito dinheiro para a reparação contínua das estradas mas não há atenção para a manutenção. E cada um poder ajudar e limpar à frente da sua casa. Isso passa pela vontade de participar", afirmou.

"Os chefes de suco devem mobilizar a comunidade e limpar as valetas à frente da sua casa e não ficar à espera do Estado", sublinhou.

ASP // JPS

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