sábado, 27 de fevereiro de 2016

Falta de mercado do livro em países lusófonos impede circulação de obras -- Especialista


Cascais, Lisboa, 26 fev (Lusa) - O especialista José Manuel Cortês, subdiretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), disse hoje que a inexistência de um mercado do livro, em alguns países lusófonos, explica a ausência da circulação do livro e dos seus autores.

José Manuel Cortês, que falava à agência Lusa no âmbito do Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia, no Estoril, indicou que o tema da "circulação do livro e do autor no espaço da Lusofonia", sobre o qual vai debater esta tarde, é "muito complexo", uma vez que "depende dos responsáveis públicos e de cooperação desses países".

Ex-diretor-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, com mais de 30 anos dedicados ao setor, José Manuel Cortês, um dos especialistas nacionais na área do livro e da leitura, considerou que "deveria haver uma estratégia para levar ao aparecimento do livro", nesses países.

Guiné-Bissau, São Tomé e Príncpe e Timor são apontados como os "casos piores" da inexistência de mercado do livro, seguidos de Cabo Verde, Moçambique e Angola.

O baixo poder de compra da população, o elevado índice de analfabetismo e a inexistência de hábitos de leitura são, para o especialista, as principais razões para o "bloqueio" de acesso ao livro e, consequentemente, ausência de autores.

"Se não há mercado do livro, não há autores. Deveria batalhar-se contra isto, aravés de mais cooperação na Educação, por exemplo. Claro que são problemas muito difíceis e não se resolvem de um dia para o outro, mas, a médio prazo, é possível", referiu.

Nesta "batalha lenta, prolongada e obstinada", José Manuel Cortês indica que há caminhos para criar hábitos de leitura, através de "programas e equipamentos que facilitem e favoreçam o acesso ao livro, pela população escolar".

O responsável acredita que há vontade dos países lusófonos em mudar essa situação, mas a falta de condições impede-os de agir e, neste âmbito, sublinhou, "Portugal poderia dar mais apoio".

"É necessário centrar no que é essencial e procurar combater esta situação. Acredito que haja vontade, mas o problema também tem a ver com as condições e, aqui, Portugal poderia ter um papel mais interventivo, mesmo tendo em conta esta situação de crise. Às vezes o apoio não tem de ser só financeiro, pode também ser técnico", sustentou.

O Encontro de Literatura Infanto-Juvenil da Lusofonia, promovido pela Fundação "O Século", começou na segunda-feira, com a ida de escritores a escolas da região de Lisboa, prosseguindo até sábado com debates, oficinas de escrita, narração e sessões de contos.

Entre os convidados estão os autores Marina Colasanti (Brasil), Olinda Beja (São Tomé e Príncipe), Maria Celestina Fernandes (Angola) e portugueses como Margarida Fonseca Santos, Luísa Ducla Soares, José António Gomes, António Mota, Mário de Carvalho, Afonso Cruz, André da Loba e Rachel Caiano.

A circulação do livro no espaço lusófono, a relação entre imagem e texto, aprender o gosto pela leitura e o trabalho das bibliotecas escolares são temas que têm vindo a ser discutidos neste encontro.

MYDM // MAG

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