quarta-feira, 26 de agosto de 2015

O SEGREDO É A ALMA DO “NEGÓCIO” DA ELITE TIMORENSE

António Veríssimo, Lisboa

Já o cadáver de Mauk Moruk arrefeceu, foi sepultado, está rígido e em decomposição e ainda a sua alma não descansa na comunicação social timorense e entre as conversas e indignação das populações nacionais e estrangeiras que estão sem saber ao certo em quem acreditar sobre a sua morte em combate ou o seu assassinato por vingança de Xanana Gusmão ou outros.

Na primeira versão sobre a morte de Mauk Moruk, que defendia a demissão de Xanana Gusmão por causa de ser corrupto e déspota enquanto chefe do governo, dono e senhor do país, um elemento das forças da polícia e do exército que nas montanhas perseguiam os contestários e opositores declarou que quando já julgavam que Mauk Moruk estava sem armas ele sacou de uma pistola e tiveram de disparar a matar – grosso modo a declaração consistiu nisto. Posteriormente foi declarado que Mauk Moruk, ao fugir dos perseguidores caiu montanha abaixo… Aliás, como consta entre os timorenses, outros perseguidos e mortos também caíram montanha abaixo e… morreram todos espatifados.

Estas incongruências e duplicidades causaram e causam dúvidas e suspeitas de que Mauk Moruk foi assassinado, como muito provavelmente outros dos seus seguidores. Até corre a versão de que Xanana Gusmão estava nas proximidades do local onde foi “desativado” Mauk Moruk. Xanana e alguns dos seus fiéis operacionais. O costume.

A ser verdade esta versão não é compreensível que o ministro dos negócios, perdão, do Planeamento e Investimento Estratégico, estivesse na zona com o propósito de assistir à captura ou assassinato de Mauk Moruk… A não ser que seja alegado que ocasionalmente ia a passar por aquela região. Pois.

Certo é que o descrédito de Xanana Gusmão já é há muito transmissível. Quase que se pode dizer que se tornou numa epidemia que assola a elite timorense e que tende a alastrar devido à permanência de Xanana Gusmão num governo em que o primeiro-ministro é considerado por muitos um fantoche que se submete às decisões de Xanana, continuando a ser ele de facto o PM. O que quer, pode e manda.

O referido descrédito, sobre a morte de Mauk Moruk, já atingiu os médicos legistas do Hospital Guido Valadares, que procederam à autópsia ao cadáver do “acidentado” opositor do regime de Xanana Gusmão e sua corte. Descrédito que macula Rui Araújo por mais que não seja verdade que ele é um PM fantoche. Macula igualmente o PR Taur Matan Ruak e o dirigente da Fretilin Mari Alkatiri. Muito se diz, muita confusão é atirada ao éter e nesta coisa que se veicula na internete, mas a versão ofiicial, limpinha, não sabemos. Afinal o que consta como resultado das autopsias de Mauk Moruk e seus seguidores? Existiram manipulações, como no caso do major Alfredo Reinado e seu lugar-tenente, ou não?

Será que para a elite timorense, para Xanana, o segredo é mesmo a alma do negócio? Ou será que tudo que aqui consta é palha e fruto de rumores sem consistência? Se é, qual a razão por que não chegam esclarecimentos diretos do alegado (ou de facto) PM Rui Araújo com a sobriedade e seriedade que se exige?

Também não é minimamente compreensível que após se ter demitido de PM Xanana Gusmão integre o governo. Não existem argumentos compatíveis com o seu escabroso historial em altas funções do Estado timorense. Ainda para mais por ele próprio ter reconhecido as suas limitações académicas e de desempenho em tais altas funções. Mais ainda por ter estado em vias de ser indiciado nas práticas de corrupção que o levariam a expulsar juízes. É indubitável que a mácula estará sempre presente sobre três personalidades que desempenham altos cargos na RDTL. A saber: o presidente Taur Matan Ruak, por aceitar não realizar eleições após a demissão do governo de Xanana Gusmão, por aceitar Xanana Gusmão ministro de um governo que não foi eleito, por aparentar que afinal também ele tem de obedecer a Xanana Gusmão ou que algo teme e o leva à submissão. Aplicando-se quase o mesmo a Mari Alkatiri, salvo umas quantas nuances.

Quanto a Rui Araújo, parece evidente que ele não sabia a camisa de onze varas em que se ia meter. O que chega a Portugal sobre ele é do melhor, como pessoa e como médico. Como timorense também.

Não se compreende que aconteça por acaso, sem motivos, sem estratégias delineadas antecipadamente, certas “confusões” que ajudam a duvidar sistematicamente sobre o que acontece em Timor-Leste por via da elite que se apoderou dos poderes após a independência. Nem se compreende que sistematicamente os opositores de Xanana Gusmão acabem quase sempre cadáveres.

Poderão esclarecer, com verdade, se não for muito incómodo e se fizerem o favor? Ou será que é segredo?

Esperemos sentados. Pois.

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