quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Perto de 150 mil Rohingya deixaram Myanmar em duas semanas

A minoria muçulmana, perseguida pelas autoridades birmanesas, tenta escapar para o Bangladesh. Milhares que ficaram sem casa – aldeias inteiras foram incendiadas nas últimas semanas por militares de Myanmar (antiga Birmânia) – ou que temem a violência contra o seu povo. Na fronteira com o Bangladesh já há relatos de feridos por minas terrestres

Dentro de pouco tempo perto de 300 mil Rohingya poderão ter deixado Myanmar para trás. A minoria muçulmana que tem sido perseguida pelas autoridades birmanesas tenta escapar à morte fugindo para o vizinho Bangladesh, que já avisou não estar em condições de receber mais refugiados.

Trabalhadores das Nações Unidas (ONU) no Bangladesh avisaram que nas últimas duas semanas (desde 25 de agosto) 146 mil Rohingya chegaram àquele país, número que poderá duplicar nas próximas semanas.


Os responsáveis da ONU alertam ainda para a escassez de alimentos e bens essenciais que têm sido fornecidos aos refugiados, que chegam sobretudo à região fronteiriça de Cox Bazar.

“Os que chegam vêm desnutridos, sem acesso a uma alimentação regular possivelmente há mais de um mês”, disse à Reuters Dipayan Bhattacharyya, porta-voz do Programa Alimentar Mundial no Bangladesh. “Estão visivelmente famintos, traumatisados.”

O último foco de violência sobre o povo Rohingya começou depois dos ataques dezenas de postos de controlo da polícia birmanesa, e a uma base militar. Seguiu-se uma contraofensiva militar –aldeias inteiras onde vivem os Rohingya, no estado de Rakhine, foram incendiadas – em que morreram pelo menos 400 pessoas e que motivou o êxodo de milhares de muçulmanos daquela minoria étnica para o Bangladesh.

SUU KYI DENUNCIA “NOTÍCIAS FALSAS”

Aung San Suu Kyi, líder de facto de Myanmar, que tem sido alvo de críticas pela forma como tem gerido esta crise, telefonou ao Presidente turco Recep Tayyip Erdogan para dizer-lhe que o seu governo tem vindo a “defender o melhor possível todas as pessoas no estado de Rakhine”.

Erdogan afirmou, na passada sexta-feira em Istambul, que “aqueles que fecham os seus olhos a este genocídio levado a cabo debaixo da capa da democracia são seus cúmplices”, o que foi interpretado como um recado ao Governo de Myanmar.

Nas primeiras declarações oficiais desde o adensar da crise, Suu Kyi justificou o aumento da tensão no país com a proliferação de “notícias falsas”. Segundo o comunicado do Governo de Myanmar, as muitas fotografias falsas postas a circular são “apenas a ponta de um grande icebergue de desinformação manietado para criar uma série de problemas entre as diferentes comunidades e com o propósito de servir os interesses de terroristas”.

A BBC cita um responsável das autoridades do Bangladesh que acredita que as forças governamentais birmanesas estão a colocar minas para impedir os Rohingya de regressarem às suas aldeias. Apesar de relatos de pelo menos três feridos causados por minas esta semana, fonte militar de Myanmar diz que não foram colocadas minas terrestres recentemente.

Cristina Pombo | Expresso

Foto: Mohammad Ponir Hossain | Reuters

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