sábado, 20 de junho de 2015

Turbulência eleitoral em Hong Kong causa surpresa relativa em Macau


Deputados pró-Governo abandonaram o plenário antes da votação da reforma eleitoral, algo que Éric Sautedé e Jason Chao não esperavam. No final, o plano de reforma eleitoral foi chumbado.

Os deputados de Hong Kong chumbaram ontem o plano de reforma eleitoral do Governo, numa votação que ficou marcada pelo abandono dos membros do parlamento afectos à ala pró-Pequim. Em Macau, o episódio foi observado com “relativa surpresa”, embora já fosse esperado o chumbo do pacote proposto pelo Executivo da Região Administrativa Especial vizinha.

“Foi mais rápido do que era esperado. Os deputados pró-Pequim estavam em rota de colisão e, de qualquer forma, já se sabia que a proposta não ia ser aprovada”, comentou o politólogo Éric Sautedé. “Isto não vai influenciar em nada o panorama que já era conhecido. A surpresa aqui foi o abandono da votação, pela primeira vez, dos deputados da ala pró-sistema”, sublinhou, em declarações ao PONTO FINAL.

Na leitura deste especialista em ciências políticas, a atitude dos deputados pró-Pequim foi uma “posição de força” tomada com o intuito de enviar a mensagem: ‘Não concordamos com essa via’, mas acabou por ser infeliz. “Não havia necessidade de secar o debate”, afirma.

Relativamente surpreendido com a atitude dos deputados pró-sistema mostrou-se também Jason Chao, activista. “O que foi inesperado aqui foi o volte-face no cenário, quando os próprios deputados pró-sistema retiraram o apoio que tinham antes dado ao plano de reforma do Governo. É a prova de que a proposta do Governo era uma má”, considera.

Para o também vice-presidente da Associação Novo Macau, o episódio mostra que “as pessoas estão a olhar já para o real futuro político, aquele que vai ditar o que vai ser de Hong Kong em 2047”, quando está previsto o regresso pleno da região à China. “Macau tem pela frente o mesmo desafio, com dois anos de atraso. Devemos falar sobre o nosso futuro político também”, defendeu.

Éric Sautedé também considera que Macau não pode fechar os olhos ao que se passa na região vizinha. “Em Macau a situação é diferente. Não há a promessa de sufrágio universal no futuro. Mas os exemplos de Hong Kong devem servir para que as pessoas sejam mais críticas por cá também. Estes episódios servem para alimentar o debate”.

Na visão do politólogo, “Macau é o aluno bom e obediente, no sentido em que é menos contestatário e mais fácil de contentar, comparativamente a Hong Kong. Isso também mostra que Macau tem uma necessidade premente de diversificar as suas vozes políticas e criar alternativas ao discurso que só defende as posições da ala pró-empresarial”.

Ponto Final (Macau)

Sem comentários: