quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Timor-Leste tem grande potencial para desenvolver setor do bambu - especialista


Díli, 16 fev (Lusa) - O setor do bambu e do vime tem grande potencial em Timor-Leste, que pode beneficiar deste "desenvolvimento verde", que gera anualmente 60 mil milhões de dólares (53 mil milhões de euros) em todo o mundo, disse hoje um especialista.

"O bambu e o vime representam grandes vantagens económicas para as comunidades, combatem a erosão e degradação dos solos, criam empregos, fomentam novas indústrias e reduzem a pobreza dos agricultores", disse Hans Friederich, diretor-geral do International Network for Bamboo & Rattan (INBAR).

Criada em 1997, a INBAR é uma organização intergovernamental com sede na China (o maior produtor de bambu do mundo) e 41 estados membros na América Latina, África e Ásia.

Friederich falava em Díli num seminário sobre o papel do bambu e do vime no desenvolvimento nacional de Timor-Leste, onde os dois produtos têm ainda um desenvolvimento insipiente.

No que toca ao vime, que gera um valor anual de cerca de 4 mil milhões de dólares (3,5 mil milhões de euros), Friederich destacou que a produção continua a crescer, especialmente na Indonésia, maior exportador do mundo.

Usado há séculos para cestaria, mobiliário e outros produtos, o vime cresce em floresta natural, já que necessita de outras plantas para se desenvolver.

"Para gerir o vime, tem de se gerir bem as florestas porque sem elas não se consegue gerir bem esta produção e dela retirar benefícios", disse o especialista, referindo que continuam a ser investigados novos usos para o material.

"A estrutura base do vime é como o osso e alguns testes mostram que se podem usar peças de vime para reparar ossos partidos, por exemplo, e que, em alguns anos, anos depois, se tornam parte do osso", afirmou.

O bambu, por sua vez, tem grande potencial económico, porque depois de cortado volta a crescer "tão rápido que os agricultores dizem que às vezes se ouve a crescer durante a noite", segundo Friederich. Oferece ainda grandes vantagens no combate à erosão e na recuperação de solos degradados.

No Ruanda, por exemplo, o bambu é usado para proteger os rios e os lagos, evitando a erosão e mantendo a água limpa. Sobrevive mesmo em solos pobres, pelo que só na China já foram reflorestados 3 milhões de hectares com esta técnica.

O rápido crescimento do bambu - em dois a três meses pode ser cortado - e a sua capacidade de absorção de dióxido de carbono, muito mais elevada que de outras plantas, especialmente em climas quentes e húmidos, tornam-no ainda mais vantajoso.

Globalmente, segundo explicou Friederich, a cadeia de valor gerada pela planta é de quase 60 mil milhões de dólares, sem contabilizar as mais-valias nos ecossistemas e os usos locais dos produtores.

Só a China tem um negócio associado ao bambu calculado em 32 mil milhões de dólares (mais de 28 mil milhões de euros), sendo a produção totalmente para consumo interno.

A previsão é que o setor, na China, alcance um valor de 50 mil milhões de dólares em 2020. A indústria chinesa do bambu emprega 7,8 milhões de pessoas.

Como ocorre nos países vizinhos, o bambu em Timor-Leste é presença habitual nas casas como material de construção, no mobiliário ou em utensílios domésticos.

Apesar disso, o bambu continua sem ser totalmente aproveitado a nível social e económico, especialmente no que toca a produtos de maior valor acrescentado.

O encontro de hoje foi promovido pelo gabinete da primeira-dama timorense em parceria com o Centro Quesadhip Ruak para "promover um melhor conhecimento sobre as vantagens, critérios e condições da adesão de Timor-Leste à INBAR" e analisar "parcerias para o desenvolvimento de atividades de formação, capacitação e industriais relacionadas com o aproveitamento económico do bambu e do vime em Timor-Leste".

ASP // MP

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